Perguntaram certa vez ao compositor Duke Ellington qual era a fórmula do sucesso, ao que ele respondeu: “Do sucesso não sei, mas sei a do fracasso: querer agradar a todo mundo.” Esta definição às avessas me parece tão boa que sou tentado a encerrar aqui mesmo o artigo, mas, como não posso, vamos em frente.
Volta e meia me aparece alguém para comentar: “Veja só Fulano... Um músico tão talentoso! Por que é que Tiririca e Lacraia fazem sucesso, e ele não?” A perplexidade é legítima, mesmo deixando de lado o detalhe de que eu, pelo menos, preferiria ser torrado na cadeira elétrica do que ter o tipo de sucesso de que desfrutam esses pitorescos personagens. O público se ressente, na verdade, de ver, como no texto famoso de Rui Barbosa, os medíocres sendo exaltados enquanto os talentosos mofam no anonimato.
Se para ter sucesso bastasse o talento, a carreira de Van Gogh não teria sido diferente da de Picasso, nem a de Garrincha diferente da de Pelé. Se definirmos sucesso como plena realização das possibilidades criativas, com reconhecimento público e rendimento financeiro condizente, temos que reconhecer que talento só não basta. É preciso ter aquilo que os livros de auto-ajuda chamam de foco, ou seja, a capacidade do sujeito de concentrar todas as suas energias na sua atividade criativa, seja qual fôr. Há pessoas de talento transbordante, mas que se consomem num frenesi de projetos inacabados e de atividade irrelevantes (isto quando não cantam mais alto as sereias da boemia).
A outros, em vez de foco, falta política. Não digo política no sentido de “administração das instituições públicas”, mas no de “acumulação de poder social”. Isto implica em saber relacionar-se bem com o público (escritores profissionais aconselham: “trate um leitor como um eleitor”, com tudo que daí decorre), angariar o interesse e o respeito da imprensa, saber manter-se em evidência, saber negociar contratos, saber quais inimigos devem ser esmagados e quais devem ser seduzidos, saber que amizades fortalecer, que companhias evitar. Por trás da maioria das carreiras bem sucedidas há uma complexa estratégia de alianças, de compromissos mútuos, de convivências diplomáticas, de pequenas atenções e pequenas ameaças, de demonstrações de força que impõem respeito e evitam conflitos mais profundos.
Há pessoas com jeito para isto; não consigo explicar de outra forma, por exemplo, o sucesso do cabeça-de-área Emerson na Seleção Brasileira, sempre descrito por todo mundo como “um jogador importante para a coesão do grupo”, mesmo que em campo não passe de uma botina giratória. E há gente que não tem inclinação ou paciência para este tipo de política. Não são poucos os artistas que, aclamados como gênios, naufragam numa sucessão infindável de atritos, desentendimentos ou erros de cálculo: Orson Welles, Von Stroheim, Sam Peckinpah... Desagradar a todo mundo é, também, uma boa fórmula para o fracasso.
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