Não confundam os “serial killers” com os assassinos em massa, que abrem fogo num local público, e matam uma porção de gente. (Terroristas não valem. O terrorista tem uma ideologia, uma causa, por mais distorcida que seja.) O assassino em massa quer simplesmente matar, por desabafo, ou para fazer explodir uma neurose acumulada. Nos EUA, são muitas vezes veteranos de guerra, ou, no caso de adolescentes como os da escola de Columbine, rapazes inadaptados, ridicularizados pelos colegas, que descobrem esse modo de se vingar. Já o assassino serial é diferente. Em vez de matar 20 de uma vez só, ele mata as pessoas de uma em uma, às vezes com meses ou anos de intervalo. Seu crime é planejado com minúcia e executado com precisão. Sua neurose é de outro tipo. Ele precisa matar, mas basta-lhe uma morte por vez. Em alguns casos pode esperar semanas, meses, até anos, antes de atacar de novo.
O primeiro assassino serial famoso foi Jack o Estripador, que entre agosto e novembro de 1888 assassinou cinco prostitutas no bairro miserável de Whitechapel, em Londres. Até então, o único fenômeno parecido eram os “esfaqueadores” (“stabbers”) – indivíduos que apunhalam as nádegas ou seios das pessoas na multidão e fogem sem ser identificados. Na década de 1880, havia casos de esfaqueadores registrados em Londres, Paris, no Texas, na Nicarágua e em Moscou. Quando morei em Salvador em 1977, havia um tal “Homem do Canivete” que praticava esse tipo de proeza, que sem dúvida tem um componente de frustração sexual.
Jack o Estripador, contudo, bateu todos os recordes. Além da precisão cirúrgica das mutilações, ele deixava mensagens para a polícia, e enviava provocações em verso para os jornais. Serviu de modelo para criminosos como Peter Kuerten (o “Vampiro de Dusseldorf”), e muitos outros. O mais famoso assassino serial de tempos recentes foi Jeffrey Dahmer, que praticava arrepiantes cenas de canibalismo com suas vítimas, e foi preso em 1991. Não duvido que tenha servido de inspiração para um dos heróis do cinema contemporâneo, o Hannibal Lecter interpretado por Anthony Hopkins em três filmes.
Milhões de pessoas financiam livros e filmes sobre estes vampiros e lobisomens da vida real. O assassino serial é a cara do nosso mundo industrial-bélico-capitalista. Metade de sua mente é viciada numa droga, o assassinato ritual; a outra metade racionaliza e administra este objetivo. Uma metade mantém uma fachada “normal”, para que a outra possa de vez em quando torturar, mutilar, matar, e se refestelar nos cadáveres de suas vítimas. Nele, o crime deixa de ser um rompante de fúria e se torna objeto de planejamento e preparação logística. A maior parte dos assassinos seriais são fascinados por armas, uniformes, execuções rituais, insígnias nazistas (ou militares em geral); são sexualmente desajustados, ou impotentes. Precisa Freud, para explicar?
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