sábado, 23 de maio de 2015

3821) "O Inquilino" (23.5.2015)



Estou coordenando, para a Escola de Cinema Darcy Ribeiro (Rio de Janeiro) uma Mostra do Cinema Fantástico, com filmes todos os sábados às 14 horas, entrada franca. A escola fica na esquina da Rua 1º. de Março com Rua da Alfândega, pertinho do CCBB. (Após a sessão, neste sábado, haverá debate com o prof. Sérgio Almeida.)

Hoje, sábado 23, será exibido O Inquilino (“The Tenant”, 1976) de Roman Polanski. O filme se baseia num livro de Roland Topor, romancista e desenhista de quadrinhos francês. É a história de um migrante polonês em Paris que aluga um apartamento onde algo terrível aconteceu com a inquilina anterior, e ele percebe que o edifício não gosta muito dele. A história lida com o tema da Substituição, em que um protagonista descobre uma pessoa numa situação bizarra, tenta chegar até ela (ou salvá-la, ou investigar a situação, etc.) e no final vê que seu destino é substituir essa pessoa.

É uma história de “casa assombrada” onde não há a presença de fantasmas humanos, e sim de um clima maligno que desencadeia a tragédia. O filme tem sido considerado o encerramento de uma “trilogia do apartamento” na obra de Polanski, três histórias de horror urbano ambientadas em apartamentos malignos, sendo as duas primeiras Repulsa ao Sexo (“Repulsion”, 1965) e O Bebê de Rosemary (1968).

Trelkovsky, o inquilino do título, é interpretado pelo próprio Polanski, com o ar desamparado de um Lionel Messi que não soubesse jogar futebol. Tentando investigar o suicídio da moradora anterior do apartamento, ele entra numa espiral de fatos insólitos e bizarros. A violência aparece em pequenos detalhes de mutilação física, cujo incômodo se torna ainda maior pela irrelevância do gesto ou pela falta de sentido, a qual gera uma sensação permanente de que “o Mal não tem um plano”, e que tudo pode acontecer. Não há uma explicação final, não há um mistério a resolver; o desfecho do filme desemboca, de modo ameaçador, nas suas sequências iniciais.

O filme tinha sido cogitado pelos produtores para ser dirigido por Jack Clayton, que dirigiu em 1961 o clássico de terror Os Inocentes. Talvez o fato do protagonista ser um polonês meio paranóico, sentindo-se perseguido em Paris, tenha levado os produtores a repassar o projeto para as mãos de Polanski. O diretor recria aqui, como ator, um personagem meio desamparado como o que interpretou em A Dança dos Vampiros (1967), que participa dos fatos sem entendê-los por completo. É um dos filmes mais estranhos na carreira do cineasta. O livro de Roland Topor teve uma reedição em 2006, incluindo textos de Thomas Ligotti e comentários sobre a versão de Polanski.