(by Emma Dima)
Era uma cidade pequena e pacata. Vivia-se ali uma vida sem
sobressaltos, mas houve uma época em que pessoas, cada vez mais numerosas,
começaram a ser atacadas por surtos de insônia e medo. Deitavam-se à hora
habitual mas não conseguiam adormecer. Enquanto maridos ou esposas ressonavam
em paz, ao lado, esposas ou maridos retorciam-se sobre o colchão, ora de um
lado, ora do outro, fitando as telhas do teto ou os traços à meia-luz da janela
fechada, por onde se infiltrava um pouco da luz da rua. O sino próximo batia
uma hora. Depois duas. Depois três. A madrugada avançava e as pessoas sofriam,
de olhos abertos e com a mente em redemoinho. De nada adiantava a água com
açúcar, o chá quente de camomila; de nada adiantava a garrafa de vinho sorvida
sem prazer, o meio litro de uísque engolido como quem quer ganhar uma aposta. O
sono não vinha.
Vinha a insônia, e com ela o medo da solidão, o medo da
noite, o medo inexplicável daquela cidade que durante a noite parecia morta.
Médicos ficavam sem ter o que receitar, esgotados todos os recursos de sua
farmacopéia artesanal. Mulheres com olheiras despejavam lágrimas; homens
embrutecidos pela incapacidade de dormir praguejavam, brigavam no trabalho,
perdiam o emprego.
Alguns fizeram uma descoberta. Era melhor fingir que estava
tudo normal e, madrugada afora, escancarar as janelas da rua, acender todas as
luzes, agir como se fosse a horinha do anoitecer. Os outros insones viam aquela única casa iluminada e saíam para a
rua, levavam para a calçada suas cadeiras, sentavam-se ali e ficavam olhando
aquela sala luminosa e colorida onde alguém lia um jornal ou regava flores.