("Salve Geral")
O
PCC, ou Primeiro Comando da Capital, nunca é chamado pelo nome nos telejornais
da Globo. É sempre citado como “a facção criminosa que controla os presídios
paulistas”, ou algo assim. (Por uma questão de coerência, a TV deveria também
referir-se à CBF, por exemplo, como “a organização-com-finalidades-de-lucro que
finge administrar o futebol brasileiro”.) Dizem que usar o nome de algo ou
alguém significa reconhecer sua existência. Isto é um resíduo curioso do
pensamento mágico/supersticioso, das pessoas que dizem “CA” para não atrair o
câncer e que em noites de trovoadas não usam a palavra “raio”, usam “faísca”. É
o vocabulário do avestruz: se eu não pronuncio o nome, a Coisa não existe.
Não
tenho simpatia pelo PCC (nem pela CBF), mas ambos são fenômenos da nossa
sociedade, tanto quanto as seitas evangélicas, os partidos políticos e a música
tecno-brega. Mesmo sem simpatizar com eles, não podemos fazer de conta que não
existem. O blog “Crimes no Brasil” reuniu em 2010 quatro pesquisadores
acadêmicos que estudam o PCC e as prisões paulistas, e fez-lhes 16 perguntas,
cujas extensas e desconcertantes repostas podem ser lidas aqui: http://bit.ly/9cVtf4. Abaixo, transcrevo alguns
trechos.
Camila
Nunes Dias (USP): “Antes (do PCC) as regras eram impostas – e quebradas – por
líderes individualizados que alcançam essa posição a partir da imposição da
violência física, do medo e da ameaça, além da formação de pequenos grupos que
se utilizavam dessa superioridade física para dominar os mais fracos. (...) O
PCC se constituiu como instância reguladora, de imposição e controle do
cumprimento das regras, assim como de punição aos transgressores”.
Karina
Biondi (UFSCar): “São muitas as mudanças que ocorreram nas prisões após o
nascimento do PCC: diminuição no número de homicídios e das agressões entre
prisioneiros, fim do consumo de crack e dos abusos sexuais, não se vende mais
espaço na cela, não se troca favor com agentes penitenciários em benefício
próprio em detrimento de outros, não se fala palavrões. Mas é importante
lembrar que essas mudanças não são frutos de leis, decretos ou imposições. Suas
propostas nascem de amplos debates e são expandidas e adotadas paulatina e
assistematicamente, não sem resistências e diferenciações na condução dessas
políticas”.