quinta-feira, 28 de julho de 2011

2620) “The Incomplete Manifesto” (28.7.2011)





Bruce Mau é um designer que em 1998 produziu um manifesto estético conhecido como An Incomplete Manifesto for Growth (Um Manifesto Incompleto pelo Crescimento) ou simplesmente The Incomplete Manifesto. De certa forma seu manifesto se assemelha ao baralho de Estratégias Oblíquas do músico Brian Eno. O que são? De certo modo, um conjunto de pequenas instruções para ajudar um artista criador a sair de situações em que a criatividade emperra, ou a cabeça dá um branco, ou a gente se vê aprisionado num jeito-de-fazer-as-coisas que já deu o que tinha que dar. Enfim, o manifesto de Bruce Mau (está completo aqui: http://tinyurl.com/yamtgvd) tem 43 itens, coisa demais para comentar aqui, mas escolherei alguns que a meu ver merecem glosa.

“9) Comece em qualquer parte. John Cage disse que não saber por onde começar é uma forma muito comum de paralisia. Seu conselho: comece em qualquer parte”. Isto é um excelente conselho para quem escreve. Muitas vezes queremos começar já arrasando, com uma frase sensacional. É melhor começar dizendo qualquer coisa, e quando a frase sensacional aparecer, dê um jeito de mudar o começo para ali. Se não aparecer frase sensacional é porque você não é bom nisso, mude de abordagem.

“15) Faça perguntas estúpidas. O crescimento é alimentado pelo desejo e pela inocência. Avalie as respostas, não as perguntas. Imagine-se aprendendo durante a vida inteira à velocidade com que as crianças aprendem.” Algumas das perguntas bobas mais úteis que já fiz na vida, em variadas circunstâncias, foram: “Para que serve isto aqui?”, “Por que temos de fazer sempre desse jeito?”, “Quem é Fulano de Tal?”. Perguntar é menos estúpido do que continuar sem saber.

“27) Leia somente as páginas do lado esquerdo. Marshall McLuhan fazia isto. Diminuindo a quantidade de informação, deixamos espaço para o que ele chamava ‘nossa cuca’.” Esse é o tipo do conselho que eu não sigo mas deveria. Por que? Porque assimilar informações de modo fragmentado força nossa mente a completar os sentidos faltantes, a imaginar, a experimentar combinações. Não se deve fazer isso ao estudar para um mestrado, mas ler uma revista do Cebolinha dessa forma é muito estimulante.

“29) Pense com sua mente. Esqueça a tecnologia. A criatividade não depende de instrumentos”. Se seu filho pequeno está levando uma série de tombos enquanto aprende a andar de bicicleta, não dê a ele uma bicicleta melhor. Deixe ele levar os tombos.

“42) Lembre. O crescimento só é possível como produto de uma história. Sem memória, a inovação é uma mera novidade. A história dá ao crescimento uma direção. Mas a memória nunca é perfeita. Toda memória é uma imagem deteriorada ou uma colagem de momentos ou eventos passados. É o que nos faz percebê-las como algo do passado e não do presente. Isto quer dizer que toda memória é nova, uma construção parcial diferente da sua fonte, e, assim, um potencial de crescimento”.