(by Chema Madoz)
Traduzir
é um processo traiçoeiro. Não sei se vocês conhecem aqueles saites de tradução
instantânea (BabelFish é o que uso mais) onde você bota uma frase, e diz de que
língua para que língua ele deve traduzir. Eu já peguei uma estrofe dos Beatles
e passei do inglês para o português; depois, do português para o russo; depois,
do russo para o italiano; e assim por diante, em dez saltos sucessivos. O texto
do fim era ininteligível. Perdia-se o sentido, o nexo entre as partes do
discurso, palavras eram traduzidas para algo “parecido” num passo, e no passo
seguinte para o “parecido com o parecido”, até a Entropia fazer com o texto o
que a polícia carioca faz com uma manifestação pacífica.
Na
recente edição da Antologia da Literatura Fantástica de Borges, Bioy Casares
e Silvina Ocampo pela Cosac Naify, há uma nota interessante. A antologia reúne
textos que originalmente eram em inglês, francês, italiano, chinês, japonês,
alemão e outras línguas. Na edição argentina, foram todos, é claro, traduzidos
para o espanhol. A nota da edição brasileira (que é traduzida por Josely Vianna
Baptista) diz:
“A
editora traduziu todos os contos da presente coletânea a partir das versões de
Borges e Bioy Casares, entendendo que assim respeitaria a poética dos autores.
Em 1982, quando foi publicada uma edição italiana da Antologia, Borges afirmou:
‘Não traduziram nossa antologia; procuraram as fontes e traduziram. Agiram
assim em prejuízo do leitor, naturalmente. Não deveriam ter escolhido um livro
de autores que se distinguem por suas transcrições e citações infiéis’ (Em A.
Bioy Casares, Borges, Barcelona: Destino, 2006, p. 1562).”