(ilustração: Mark Allen Miller)
Sempre me perguntam como consigo redigir um artigo por dia.
Mal sabem que recorro aos serviços da Narrative Science, empresa de Chicago (http://www.narrativescience.com/) cujos
softwares redigem matérias jornalísticas a partir de bancos de dados. Os
programas da NS já conseguem produzir relatos sucintos e precisos de 10 ou 15
linhas sobre jogos de beisebol da Little League norte-americana (uma espécie de
campeonato nacional de juniôres, como se diz aqui). Segundo a revista Wired de
maio, na matéria “The Rise of the Robot Reporter” (http://bit.ly/JXNvKq), a história começou em
2009, com um software simples: “Eles colocaram os dados, o placar e um resumo
minuto-a-minuto, e em 12 segundos o programa citou exemplos de 40 anos da Liga
Profissional, redigiu uma sinopse da partida, escolheu a melhor foto e escreveu
a legenda”. A equipe de 30 pessoas da NS conta com “meta-escritores” que
produzem os templates de texto, ou seja, as frases a serem usadas para exprimir
as ocorrências do jogo, depois dos dados serem interpretados.
Diz Steven Levy, autor da matéria, que softwares desse tipo
podem extrair significado de quantidades gigantescas de dados; finanças e
esportes são duas áreas especialmente propícias para isto. Há muito otimismo na
empresa, para quem “qualquer pessoa que precise verbalizar e explicar grandes
quantidades de dados pode se beneficiar deste serviço. (...) Há muita gente
disposta a pagar para converter todas aquelas informações confusas em alguns
parágrafos legíveis que ressaltem os pontos principais”. Outras empresas estão
entrando neste ramo ainda recente, como a Automated Insights (ex-Stat Sheets)
da Carolina do Norte. O custo de
produzir esse tipo de informação é tão baixo que torna-se rentável até mesmo
redigir relatórios específicos para um único cliente.
A NS pensa em ampliar seus serviços até para áreas de lazer
como os videogames, produzindo, p. ex., sinopses de sessões de World of
Warcraft, cujos jogadores teriam acesso a um resumo detalhado do jogo, uma
narrativa que soaria como se um jornalista os tivesse acompanhado ao longo da
aventura. David Rosenblatt, na NS, diz: “A Internet gera mais estatísticas do
que qualquer outra coisa que já tenhamos visto, e a nossa companhia se dedica a
transformar estatísticas em palavras”. O artigo de Levy considera que
algoritmos e repórteres poderão trabalhar lado a lado no futuro, seja com os
computadores interpretando dados e pessoas redigindo os textos finais, seja com
repórteres humanos entrevistando pessoas e formalizando os dados que depois
serão transformados em textos pelos softwares. As possibilidades, como sempre,
são infinitas.