
Tão dedicados que enfrentam a complicada tarefa de verter
para outras línguas os seus versinhos sem sentido, que ele mesmo ilustrava de
maneira muito divertida. Lear cultivou o limerick,, uma forma de poesia inglesa
que consiste numa estrofe de cinco versos onde o 1, o 2 e o 5 são longos e
rimam entre si, e o 3 e o 4 são curtos e rimam um com o outro. O limerick é
tipicamente uma estrofe meio absurda e meio obscena para ser cantada em público
enquanto se toma cerveja num bar. Para ter uma idéia de como se canta, lembrem
a melodia do desenho animado de Popeye, aquela que diz “Oh Popeye the sailor
man...” Um limerick se encaixa
aproximadamente numa melodia como aquela.
Vinicius Alves arriscou-se a
traduzir e homenagear Lear em seu centenário, e publicou este ano Um Livro de
Nonsense (Florianópolis: Bernúncia, 2012), um livro destinado a “crianças de 8
a 88 anos”, com 44 limericks de Lear. O livro traz na página esquerda o
original inglês (com a ilustração do autor) e na página oposta a tradução, que
sempre toma inúmeras liberdades, mantendo uma certa semelhança com o original
mas pulando para direções inesperadas. Lear empregava muitos nomes próprios
(pessoas e lugares) em suas rimas, e o tradutor brasileiro vê-se forçado a
inventar outros, que sugerem novas rimas, e assim por diante. Vinicius Alves
também interfere (de forma positiva) na estrutura do limerick de Lear, o qual
tinha o hábito de repetir na última linha a frase da primeira; alguns
tradutores optam por evitar essa repetição, criando um verso novo. (Eu teria
feito o mesmo.)