quinta-feira, 24 de maio de 2012

2878) A Vida e os Tempos de Safira Cingalesa (24.5.2012)



Cap. 1 – De como certo dia nasceu em Junco do Seridó uma menina, filha de um frentista de posto e de uma cozinheira, e foi batizada como Maria Ceilândia.

Cap. 2 – De como aos 19 anos ela trabalhava de babá para a filha de Jacyelle, uma superstar de forró de Fortaleza, e viajou acompanhando a patroa numa excursão pela Europa. 

Cap. 3 – De como, para surpresa de todos, Maria Ceilândia sumiu do Hotel para sempre, deixando pregada no travesseiro uma folha de papel dizendo apenas: “Dei o leite e o remédio à meia-noite. Fui!!!”, assim, com três pontos de exclamação.  

Cap. 4 – De como o mundo nada mais soube durante dois anos e meio, entretido em fazer revoluções em torno do Sol. 

Cap. 5 – De como, no início de um verão aparentemente igual aos outros, multidões parisienses se acotovelavam em frente ao cabaré “Le Boeuf Noir”, no Pigalle, cujos néons anunciavam o show de estréia de Safira Cingalesa, a mais famosa dançarina-do-ventre do Sri Lanka. 

Cap. 6 – De como seu empresário, o misterioso dândi Victor Cohen, governava com mão-de-ferro seus feéricos shows, sua fortuna rapidamente adquirida, e as paixões tempestuosas que ela despertava mundo afora. 

Cap. 7 – De como Safira Cingalesa fez uma turnê devastadora pelas capitais da Europa, arrebatando platéias, seduzindo xeiques sauditas e playboys novaiorquinos, e mantendo seu voto de silêncio diante de uma mídia sequiosa por entrevistas.  

Cap. 8 – De como o Marquês de Dautrémont e o General L’Herbisier duelaram pelo amor da dançarina, ferindo-se mortalmente um ao outro numa gélida manhã enevoada no Bois de Boulogne. 

Cap. 9 – De como um belo dia Safira Cingalesa estava se apresentando em Lisboa e num restaurante de luxo cruzou com a cantora de forró Jacyelle, que a reconheceu imediatamente, gritou: “Maria Ceilândia! Ah, condenada dos infernos!”, passou-lhe uma descompostura e meteu-lhe a bolsa na cara, enquanto Safira, para espanto dos comensais e para o deleite e os flashes dos “paparazzi”, ajoelhava-se aos seus pés, chorando e dizendo: “Desculpe, Dona Jacyelle!  Eu tava só brincando!”.  

Cap. 10 – De como Jacyelle meteu igualmente a bolsa na cara de Victor Cohen (que tombou no tapete, desmaiado e falido) e recambiou Maria Ceilândia de volta ao Ceará, onde ela empregou-se como recepcionista em convenções empresariais, deu entrevistas na Globo, posou para a “Playboy”, candidatou-se a deputada estadual (teve 73 votos) e acabou se casando com Amintas Salgueiro, 52 anos, evangélico, dono de uma fábrica de bicicletas, e confidenciou às amigas: “Ai que bom, eu não aguentava mais aqueles homens no meu ouvido gemendo coisas que eu não entendia”.