terça-feira, 28 de outubro de 2014

3643) Sete veredas do sertão (28.10.2014)



Segundo o pesquisador Willi Bolle, a bibliografia de textos de análise ou comentário ao Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa já passa dos mil e quinhentos títulos.  Ele deve saber do que está falando, porque publicou em 2004 “grandesertão.br” (Eds. Duas Cidades / 7Letras).  Entre mil detalhes, Bolle propõe uma subdivisão da narrativa do romance em unidades, já que Rosa fez um texto corrido e sem cortes do começo ao fim. (Falei dias atrás das 10 subdivisões sugeridas por Ariano Suassuna.)

No seu livro (pags. 62-63) Bolle sugere uma divisão em sete partes.  Vou resumir. 

Um: Proêmio. Riobaldo fala, proseia, passeando por todos os temas principais da história que se inicia.  

Dois: “Recorte ‘in media res’ da vida do jagunço Riobaldo. Já jagunço, Riobaldo está no bando de Medeiro Vaz, que fracassa a travessia do Liso do Sussuarão. Surge a figura de Zé Bebelo.  

Três: Interrupção. O narrador comenta a dificuldade de narrar.  

Quatro: Primeira parte da vida de Riobaldo. Volta à infância, quando no rio ele conhece o Menino (que virá a ser Diadorim); ele fala de sua mãe, seu padrinho, sua criação, como estudou e viveu.  Sua ligação com Zé Bebelo, o jagunço-deputado.  Como vira jagunço. O bando de Joca Ramiro derrota, prende, julga e liberta Zé Bebelo.  Depois, notícia do assassinato de Joca Ramiro.  Começa “a outra guerra”. 

Cinco: Segunda Interrupção.  “O narrador, que se coloca numa situação de ‘acusado”, se põe a falar de sua ‘culpa’ e do que ‘errou’.  

Seis: Segunda parte da vida de Riobaldo: o conflito com Zé Bebelo, o pacto com o Diabo, a travessia (agora bem sucedida) do Liso, o encurralamento dos inimigos e o sangrento confronto final.  

Sete: Epílogo. Riobaldo proseia, amarra as últimas pontas falando como casou, como herdou uma fazenda, como transformou vários companheiros de jagunçagem em seus moradores e braços-de-armas.  “A viagem pelo sertão termina, em termos de perspectiva, com o signo do infinito.”

Um romance inconsútil como GSV meio que força o leitor mais atento a traçar esses esquemas, porque com eles diminui a sensação de estar sobrevoando a Amazônia sem bússola nem mapa. Esse fio básico conta a história. Bolle vê no livro de Rosa uma estrutura (a aventura de Riobaldo) que sugere a formação das instituições brasileiras, no que têm de flexíveis ou de viciadas.  Ele enfatiza o lado fazendeirão de Riobaldo, novo poderoso chefão estabelecido, contando sua trajetória rumo ao status quo, rememorando sua folha de serviços e tentando se justificar através de uma paixão e de uma culpa.  (O livro também tem vários mapas, cronologia de combates e eventos, etc.)