domingo, 2 de junho de 2013

3202) A Vida e os Tempos de Karla Perestroika (2.6.2013)




Cap. 1 – De como a menina nasceu de oito meses, e os pais, pegados de surpresa, acabaram registrando-a com o primeiro nome que lhes veio à cabeça diante de uma TV ligada no Jornal Hoje.  

Cap. 2 – De como aos 12 anos a menina viu um balé na TV e decidiu que iria ser bailarina. 

Cap. 3 – De como logo na primeira aula de balé ela surrupiou o celular vistoso de uma amiguinha e, com medo de ser descoberta, pulou na carroceria de um caminhão que seguia para Recife e saltou em Caruaru.  

Cap. 4 – De como a menina foi recolhida pela esposa do dono da um posto de gasolina, comovida com o fato dos pais dela terem morrido num acidente de carro deixando-a sem documentos, com a roupa do corpo e um celular bloqueado.  

Cap. 5 – De como ela afirmou, entre outras coisas, chamar-se Maria de Lourdes da Silva, um nome poético com o qual sempre sonhara quando as coleguinhas da escola zonavam com seu nome verdadeiro.

Cap. 6 – De como Maria de Lourdes tornou-se garçonete, depois atendente de camioneiros no quarto dos fundos, depois esposa do dono do posto quando a primeira esposa morreu, depois dona do posto quando o marido morreu também. 

Cap. 7 – De como aos 26 anos ela resolveu que Maria de Lourdes era nome de empregada e resolveu se assumir como Karla Perestroika: “Quem não gostar, morda o cotovelo e roa!”. 

Cap. 8 – De como Karla Perestroika vendeu o posto por uma pequena fortuna, esquiou em Bariloche, acampou na Chapada dos Guimarães, cantou seresta em Olinda, nadou em Cancún, até que um oficial de justiça bateu na porta do motel e ela descobriu que tinha gasto o dobro do que lucrara. 

Cap. 9 – De como no caminho para a delegacia ela convenceu o oficial de justiça a voltar para o motel; e dos argumentos que empregou.

Cap. 10 – De como os dois se amigaram pra valer, fugiram para Londrina e montaram ali uma papelaria e um fliperama.  

Cap. 11 – De como constataram, no balanço do fim do ano, que o fliperama dava ainda menos grana do que a papelaria.  

Cap. 12 – De como Karla achou nas coisas de Jessé (o namorado) um livro de Sartre e descobriu o que era crise existencialista. 

Cap. 13 – De como ela raspou a cabeça (a de Jessé também), vendeu tudo que os dois tinham, doou o dinheiro ao Greenpeace, recolheu-se a um mosteiro carioca, praticou meditação transdimensional, alcançou o Nirvana, deixou-se embeber pela Serena Luz, fractalizou as vibrações do seu corpo etéreo e transcendeu o meramente físico, infelizmente sem a companhia de Jessé, que ficava a sacudi-la pelo ombro e a dizer que tinha um oficial de justiça tocando a campainha e cobrando os encargos trabalhistas atrasados da papelaria.