A
música se compõe de ritmo, melodia e harmonia. Não sei se está assim nos
compêndios musicais, mas é assim que está no meu ouvido e no meu entendimento.
O ritmo é a sucessão de batidas fortes e fracas (acentuadas e não-acentuadas),
a ordem que elas criam e as aparentes desordens que logo se revelam
(idealmente) como ordens mais complexas e menos previsíveis, mas que a gente
percebe depois de algum tempo. Ritmo é a parte mais básica da música. É algo
que pode ser criado batendo com a mão na mesa ou o pé no chão, estalando ou
tamborilando com os dedos... É a camada mais primal. Bebês incapazes de
acompanhar uma melodia são sensíveis ao ritmo. O ritmo na música popular
consiste basicamente na repetição das mesmas sequências de acentos fortes e
fracos.
Uma
melodia é uma sucessão de notas musicais no tempo, quando elas parecem estar
contando uma historinha abstrata de tensões e relaxamentos, ascensões e quedas,
avanços e recuos, percursos em linha reta e desvios inesperados. Cada cultura
tem seu idioma melódico próprio; basta ouvir um CD de música folclórica chinesa
ou indiana. Há pessoas com sensibilidade e imaginação melódica que são capazes
de criar melodias mentalmente, cantarolando, sem saber tocar o mais simples
instrumento. (Rosil Cavalcanti era assim.) Outros têm, como a gente diz, o
“ouvido duro”, tapado, que só às custas de muito esforço consegue perceber as
sutilezas melódicas. De um modo geral, não há ouvido tão duro que não possa ser
educado até certo ponto. Meu ouvido é duro, e eu o eduquei na marra.