A crítica contemporânea de artes plásticas e de comunicação áudio-visual criou um utilíssimo termo para descrever nossa sociedade. Em inglês, eles chamam de “media landscape” ao ambiente artificial que nos cerca, o conjunto de imagens e sons produzidos pelos meios de comunicação de massas: rádio, TV, revistas, jornais, cartazes e out-doors de propaganda, etc. É um conceito também muito usado pela crítica de literatura futurista ou de ficção científica.
A tradução ao pé da letra de “media landscape” seria “paisagem da mídia” (ou “dos meios de comunicação”), mas proponho a tradução “mídia ambiente”, que deixa mais visível o fato de nosso mundo urbano ser um meio ambiente artificial, feito de mensagens de todo tipo. Se, como afirmam os teóricos da comunicação, tudo é mensagem, tudo é linguagem, torna-se quase impossível distinguir, nessa mídia ambiente, algum elemento natural. Mesmo quando atravessamos uma praça com gramados, riachos, árvores e canteiros de flores, esses singelos elementos vegetais foram plantados (ou transplantados para) ali por um grupo de operários, obedecendo às instruções de um paisagista. Houve uma escolha, um planejamento prévio, e esses elementos bucólicos estão ali com o intuito de dar um recado à população – algo como “eis aqui um oásis de natureza no meio da selva de pedra... venha... traga seus filhos... mostre a eles como era o mundo antes da civilização passar por cima de tudo.” É mensagem. Não pertence mais à natureza, e sim à cultura, à mídia. Está ali com um propósito, com uma segunda intenção.
Tudo é mensagem, tudo é código. Arquitetura é uma linguagem: os traçados dos prédios produzem impressões diferentes, dão mensagens diferentes. O mesmo quanto às roupas que usamos, os carros que dirigimos, os adornos que dão personalidade a nosso rosto (um bigode ou um batom, um par de óculos ou um piercing). Para onde nos voltamos, estamos vendo uma colagem de efeitos visuais produzidos industrialmente, massificados pela propaganda, e escolhidos por nós meio ao acaso, mas com a intenção de criar para nós mesmos uma imagem que possa ser aceita (ou que escandalize), que nos revele (ou que nos disfarce) – cada um escolhe as mensagens que emite.
Para a crítica de ficção científica isto já é, desde os anos 1950, o começo da realidade virtual, da Matrix. Ainda não podemos plugar nossas mentes num super-computador com interfaces sensoriais que inventam um mundo artificial, mas já vivemos num mundo artificial. Quem quiser saber o que é meio ambiente, o que é “o mundo real”, vá para a floresta. Nas cidades, tudo já pertence à Matrix. Tudo já pertence ao mundo das ilusões, ao mundo manipulado que nos manda o tempo todo instruções subliminais. São recados que passam por sob o limiar de nossa consciência. Eles nos guiam ou nos seduzem; nos erotizam ou nos advertem; nos policiam ou nos distraem. Abaixe este jornal. Olhe em redor. Você está na Matrix.
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