sexta-feira, 7 de março de 2008

0065) Ivanildo Vila Nova, poeta há 40 anos (6.6.2003)

Amanhã, dia 7, acontece no Marco Zero, em Recife, a noite final do “3º Desafio Nordestino de Cantadores”, um festival de violeiros em homenagem aos 40 anos de Cantoria de Ivanildo Vila Nova, um dos grandes repentistas do Nordeste. Ivanildo é de Caruaru, mas morou muito tempo em Campina Grande. Eu diria que ele se inclui naquele grupo de pessoas que, não tendo nascido em Campina, encaminharam-se para a Serra da Borborema como se escutassem um Chamado, e esse chamado fosse o de sua própria voz, chamando-os do Futuro. São muitos; mas posso lembrar Rosil Cavalcanti, Elba Ramalho, José Nêumanne, Jackson do Pandeiro... e Ivanildo Vila Nova.

Eles devem muito a Campina, mas Campina também deve muito a eles. Ivanildo foi um dos maiores responsáveis pela fundação da Associação de Repentistas e Poetas Nordestinos, que, com a ajuda do Museu de Arte da então FURNe, fêz do Congresso de Violeiros de Campina Grande um dos maiores eventos da poesia popular do Nordeste. E não só o Congresso. A integração dos violeiros à vida da cidade, principalmente junto ao público universitário, ajudou a desencadear mudanças na profissão de Cantador, com reflexos que perduram até hoje. Cantadores se apresentavam em calouradas, em cineclubes, em “vernissages” de artes plásticas, em colégios secundaristas. No banquete comemorativo dos 50 anos do Treze F.C., no Rique Palace Hotel, em setembro de 1975, coube a Ivanildo Vila Nova e José Gonçalves a honra de celebrar ao som da viola as jornadas épicas do Galo imbatível.

A professora Elba Braga Ramalho, em seu livro “Cantoria Nordestina: Música e Palavra”, assim se refere ao grupo de Cantadores que atuou em Campina Grande nesse período: “Aqueles jovens nos anos 70 mudaram a imagem da Cantoria.” No centro desses jovens estava Ivanildo Vila Nova, amparado no respeito de todos pelo seu talento poético e espírito combativo. Se alguém já levou ao pé da letra a expressão “viver de desafio”, foi ele. Questionador, articulador, sem papas na língua, Ivanildo já teve muitos desafetos. Mas todos o respeitavam; e, é engraçado, nunca vi nenhum deles chamá-lo de mau poeta.

Muita coisa que eu sei de Cantoria foi o mestre Ivanildo que ensinou. Naquele tempo, quando eu tinha 25 anos, ele 30, passamos muitas tardes ou noites num balcão de bar, eu tomando cerveja, ele tomando café, e conversando sobre qualquer assunto: nossas vidas, a vida alheia, Campina Grande, política, futebol, mas principalmente poesia. Há quem diga que Vila Nova é o maior Cantador do Brasil. Eu não sei fazer comparações desse tipo. Pra mim é como dizer que a água de um açude é mais água do que a água de um copo. A poesia para mim é como uma água: tem uma sede na gente que só poesia que mata. Todo cantador, pra mim, é uma fonte dessa água. Peço aos deuses que a fonte de Ivanildo continue a jorrar, e agradeço de coração por ter sido um dos que ali beberam.

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