A briga entre o digital e o analógico não avança sem alguns
golpes baixos. Ou algumas boas
malandragens, de acordo com o ponto de vista.
Boa malandragem parece ser o ponto de vista de banda de heavy metal Def
Leppard, cujo trabalho conheço pouco mas me lembro de ter visto no Rock in Rio
de 1985. O Leppard parece estar vivendo
uma profunda crise conjugal com sua gravadora, a Universal Music. (O
relacionamento entre gravadoras e artistas contém alguns padrões que lembram
muito o relacionamento entre maridos e esposas.) Os dois não têm chegado a um acordo sobre a
remuneração mais justa sobre vendas e downloads de faixas do catálogo da
banda. A discussão chegou a um ponto em
que deixou de haver discussão.
“Nosso contrato”, diz o líder Joe Elliott, “estabelece que
eles não podem fazer nada com as músicas sem a nossa permissão, absolutamente
nada. Então nós mandamos uma carta
dizendo: Não importa o que vocês sugerirem, vão ter um ‘não’ como resposta,
então é melhor não sugerirem nada”. O
problema é que a Universal também detém direitos sobre os fonogramas gravados
pela banda, em seus 30 anos de carreira.
Como sair do impasse?
Simples: a banda está regravando em estúdio seus grandes
sucessos, reproduzindo a gravação original com a mesmíssima sonoridade, mas
gerando com isso um novo fonograma que pertencerá somente a ela. Um auto-plágio ou auto-falsificação? Diz
Elliott que é um trabalho duro: “Tivemos que estudar essas canções nos mínimos
detalhes, e fazer imitações perfeitas. Deve ter levado o mesmo tempo de gravação
que as faixas originais, mas por causa das novas técnicas o processo final foi
mais rápido. Mas, como recapturar aquelas sonoridades? E onde eu vou achar aquela voz com 22 anos de
idade?”.