(Martins Jr.)
Ainda com relação à palestra recente de Ariano Suassuna
sobre Augusto dos Anjos, na Paraíba: Ariano fez uma menção à “Escola do
Recife”, que teve um papel importante na formação do poeta do Eu. A Escola do
Recife foi um movimento nacionalista e cientificista do final do século 19,
concentrado na Faculdade de Direito do Recife, que reuniu intelectuais como
Tobias Barreto, Joaquim Nabuco, Sílvio Romero e muitos outros. Entre os
ativistas do movimento junto à Faculdade estava Martins Júnior (José Isidoro
Martins Jr.), intelectual e poeta, grande leitor de ciência e de filosofia, que
publicou em 1883 um ensaio intitulado A Poesia Científica. (Ver trechos aqui,
em sua página na Academia Brasileira de Letras: http://bit.ly/UoGGcz).
Há influência de Martins Jr. (1860-1904) sobre a obra de
Augusto. Os dois têm muito a ver em estilo, em assunto, em visão do mundo. Na
sua palestra, Ariano fez uma distinção entre o talento e o gênio. Disse ele que
as teorias poéticas de Martins Júnior eram brilhantes, mas que sua poesia era
fraca, porque ele tinha apenas talento.
Já Augusto, segundo Ariano, tinha gênio; foi ele quem produziu a “poesia
científica” que Martins Júnior teorizou e não foi capaz de criar.
R. Magalhães Jr., em sua Poesia e Vida de Augusto dos
Anjos, comenta no capítulo 11 que a morte inesperada de Martins Jr., aos 44
anos, ocorreu em agosto de 1904, causando grande comoção no Recife e na
Faculdade de Direito, onde Augusto já estudava. Ele registra a influência, em
Martins Jr., “do evolucionismo spenceriano, do transformismo darwínico, do
monismo haeckelista e do realismo científico materialista”. Ou seja,
praticamente a base filosófica de onde decolava a poesia de Augusto.
Magalhães transcreve uma estrofe de um poema de Martins Jr.,
onde se pode ver a tentativa de algo que Augusto, mesmo bem mais jovem,
realizaria de maneira mais madura, logo a seguir: “Como coisas senis,
fossilizadas, negras, / amontoam-se além as bolorentas regras / da Bíblia, do
Alcorão, do Avesta e Rig-Veda. / Trôpegos, sem valor, curvos, de queda em
queda, / fogem, na treva espessa, Adon, Moloque, Siva, / Ormud, Vichnu,
Ahriman, Baalath...” Augusto também
evocaria muitos desses nomes místicos.