No filme The Corporation, a certa altura os realizadores
questionam o uso maciço de propaganda dirigido às crianças nos EUA para que
comprem (ou peçam aos pais) brinquedos, doces, etc. Os entrevistadores perguntam se não é eticamente errado manipular
com publicidade as mentes despreparadas dos pirralhos, fabricando desejos, num
momento em que elas não têm uma visão crítica sobre o que estão assistindo. Uma
executiva responde, rindo: “But it’s just a game!”. É só um jogo! Para a
mentalidade dos executivos, é um jogo de números entre as empresas, como o
Banco Imobiliário. Eles precisam melhorar a relação dos números da própria
empresa (vendas, lucro, etc.), e a relação entre os números da empresa e os dos
concorrentes.
Todos nós somos assim, não é mesmo? Todos somos
politicamente corretos, religiosos, bons cidadãos, mas no momento em que alguém
bota um putufú de dinheiro em cima da mesa e diz: “Será seu, se você fizer tal
e tal coisa”, argumentos brotam dos lugares mais inesperados da nossa mente,
convencendo-nos de que não estamos fazendo aquilo pelo dinheiro, mas por uma
lista de motivos nobres que daria duas voltas-à-esquina. Se uma fábrica de
pipoca me oferecesse um salário mensal de 100 mil reais para dirigir seu setor
de publicidade, forçando todas as crianças da Paraíba a comerem pipoca
desenfreadamente, eu pensaria: “Ora... Pipoca é milho! É cultura indígena! O milho faz parte de
nossa dieta desde tempos imemoriais. Contém amido! Melhor vê-los comendo pipoca do que mascando chicletes”. E assim
por diante.