sábado, 25 de maio de 2013

3195) O nome da cidade (25.5.2013)



(Bombaim)


Volta e meia estão mudando o nome de alguma coisa. Nomear é tomar posse, dizem as doutrinas cabalísticas. Então, existe um frenesi constante, por parte de quaisquer poderes, para dar um novo nome a algo que já existia. Quando a Revolução Francesa triunfou, mudou os nomes dos meses do ano, que passaram a se chamar: Brumário, Floreal, Germinal, Termidor... A população ficou atarantada com isso, e os legisladores danaram-se a promulgar o que bem entendiam.

Na Paraíba existe um movimento permanente para trocar o nome da capital João Pessoa por outro, que para alguns seria o antigo nome de Parahyba, inclusive grafado assim. (Se a Bahia pode manter seu “h”, por que não podemos recuperar nosso “hy”, que inclusive remete ao mito atlântico de Hy-Brasil?). Drummond ironizou, em seu livro Brejo das Almas, os que queriam mudar o nome dessa cidade, alegando que nada significava (conseguiram: o lugar chama-se hoje Francisco Sá). Muitas dessas mudanças se pretendem modernizadoras (trocar um nome cafona por uma denominação ligada ao “mundo de hoje”) ou restauradoras (trazer de volta um nome tradicional).

Vale anotar as reflexões de Suketu Mehta em seu livro Bombaim, cidade máxima (Cia. Das Letras, 2011), a respeito da mudança (de natureza política) de Bombaim para Mumbai, em 1995:

“A mudança de nome está em voga em toda a Índia: Madras chama-se Chennai; Calcutá, essa cidade construída pelos britânicos, mudou de nome para Kolkata. Um parlamentar do BIP exigiu que o nome da Índia seja trocado para Bharat. É um processo não apenas de descolonização, mas de desislamização. (...) Um nome tem tal natureza que, se crescemos com ele, a ele nos apegamos, seja qual for sua origem. Fui criado em Nepean Sea Road, atualmente Lady Laxmibai Jagmohandas Marg. Não tenho idéia de quem foi Sir Ernest Nepean, assim como não sei quem foi Lady Laxmibai Jagmohandas, mas me apeguei ao nome original, e não entendo a razão da mudança. O nome adquirira uma ressonância, com o passar do tempo, distinto de sua origem. (...) Acostumei-me ao som do nome. Está incorporado no meu endereço, na minha vida sonhada”.

Independente da justeza ou não das homenagens, os nomes se tornam referenciais da história pessoal de cada um. É preciso uma razão muito forte, e coletiva, para a mudança de um nome comunitário. “Vila Nova da Rainha” pode ser (eu acho que é) mais bonito e mais poético do que “Campina Grande”, mas eu cresci dentro deste nome e a ele me afeiçoei. Só admitiria a volta ao nome antigo se se tratasse de uma necessidade coletiva, que viesse a fortificar nossa unidade, nosso sentido de compartilhamento de uma História que pertence a todos.