Nossa literatura sempre gostou de contar a história dos
Donos do Mundo. Qualquer cara merecedor desse título, mesmo em escala regional,
merece um romance ou um filme 35mm, não é verdade?
O regionalismo nordestino nos deu inúmeros donos-do-mundo na pessoa dos fazendeiros de Jorge Amado, José Lins do Rêgo, e por aí vai. Cada senhor de engenho ou criador de gado sabia-se dono de um mundo, e como era o único mundo de que ele tomava conhecimento, essa consciência era invulnerável a argumentos.
O regionalismo nordestino nos deu inúmeros donos-do-mundo na pessoa dos fazendeiros de Jorge Amado, José Lins do Rêgo, e por aí vai. Cada senhor de engenho ou criador de gado sabia-se dono de um mundo, e como era o único mundo de que ele tomava conhecimento, essa consciência era invulnerável a argumentos.
O Cinema Novo e o Realismo Mágico trouxeram uma dimensão
extra a esse mito. O Dono do Mundo deixou de ser objeto de análises e
descrições históricas e pulou direto para a categoria de mito, de lenda, de
personagem maior-que-a-vida.
Em O Senhor Presidente de Astúrias, O Outono do Patriarca de Garcia Márquez, Cabeças Cortadas de Glauber Rocha e inúmeras outras obras o Dono do Mundo é um indivíduo neurótico, desmedido, imprevisível, alucinado...
Como os deuses bêbados das antigas mitologias, ele detém o poder total sobre nosso mundo mas não tem o menor controle sobre as próprias emoções. Como os reis bêbados (nos quais, certamente, o conceito antigo de Deus se inspirou), podem nos dar hoje a fortuna, amanhã o cadafalso, e depois de amanhã chorar nossa ausência.
Em O Senhor Presidente de Astúrias, O Outono do Patriarca de Garcia Márquez, Cabeças Cortadas de Glauber Rocha e inúmeras outras obras o Dono do Mundo é um indivíduo neurótico, desmedido, imprevisível, alucinado...
Como os deuses bêbados das antigas mitologias, ele detém o poder total sobre nosso mundo mas não tem o menor controle sobre as próprias emoções. Como os reis bêbados (nos quais, certamente, o conceito antigo de Deus se inspirou), podem nos dar hoje a fortuna, amanhã o cadafalso, e depois de amanhã chorar nossa ausência.
A ficção científica está transpondo esse conceito para os
ricos do nosso tempo. São aqueles bilionários, CEOs de megacorporações, políticos,
altos funcionários, etc., que praticamente vivem em seus jatinhos, saltando de
capital em capital e costurando a rede das finanças globalizadas.
São o Hubertus Bigend dos livros de William Gibson, o governador Huey Hugelet de Bruce Sterling, o Weyland (Guy Pearce) do filme Prometheus... Não são indivíduos onipotentes, por mais poderes que tenham. São guerreiros envolvidos em conflitos que nós, formiguinhas perdidas na poeira das ruas, mal somos capazes de vislumbrar.
São o Hubertus Bigend dos livros de William Gibson, o governador Huey Hugelet de Bruce Sterling, o Weyland (Guy Pearce) do filme Prometheus... Não são indivíduos onipotentes, por mais poderes que tenham. São guerreiros envolvidos em conflitos que nós, formiguinhas perdidas na poeira das ruas, mal somos capazes de vislumbrar.
São personagens de estatura mítica pela dimensão cósmica de sua ambição, crueldade, esperteza, magnetismo. Um pouco semideuses, um pouco super-heróis, não têm poderes de natureza física como Superman. Seu poder é totalmente social (os cargos que ocupam) e psicológico (as qualidades que têm). Projetamos neles nossos medos e nossas ambições.
Eles são, de certo modo, o que qualquer um de nós seria se de uma hora para outra se tornasse bilionário, poderoso, influente, respeitado, paparicado. A FC é a única literatura que pode descrever adequadamente os Donos do Mundo de nosso tempo.