sexta-feira, 30 de agosto de 2013

3278) Histórias de horror (30.8.2013)




O saite BuzzFeed publicou os resultados de um concurso (http://bit.ly/11sZaxp) feito com leitores do Reddit, para escolher as melhores histórias de horror em apenas duas frases. (Se bem que, dependendo da sintaxe adotada, duas frases podem ocupar duas páginas; basta pensar em Proust ou em D. F. Wallace). Como tudo que envolve micronarrativas, não se deve exigir dessas histórias muita coisa em termos de descrição, caracterização de personagens, desenvolvimento, etc. É vapt-vupt. Um pequeno trecho que sugere personagens, ambiente e ação, contando com a colaboração imaginativa do leitor. Aqui vão algumas das vencedoras (sem nenhuma ordem especial).

1) “Você chega em casa, cansado, depois de um dia duro de trabalho. Estende a mão para o interruptor para acender a luz, mas encontra outra mão em cima dele.”

2) “Meu reflexo no espelho piscou para mim”.

3) “Você ouve sua mãe chamando-o, na cozinha. Quando se dirige para a escada ouve um sussurro vindo do armário dizendo: “Não desça, meu filho, eu também ouvi”.

4) “Os médicos disseram ao amputado que ele poderia sentir a presença de um membro fantasma. Mas ninguém o preparou para aquele instante em que ele sentiu sua mão fantasma sendo tocada por dedos muito frios.”

5) “Fui botar meu filhinho para dormir, e ele pediu: Pai, veja se embaixo da cama tem algum monstro. Olhei embaixo da cama, para agradá-lo, e lá estava ele, trêmulo de medo, sussurrando: Pai, tem alguém na minha cama!”

6) “Minha filha não para de chorar e de gritar, a noite inteira. Visito seu túmulo e peço que pare, mas não adianta”.

7) “Depois de um dia duro no trabalho, cheguei em casa e vi minha namorada com nosso bebê nos braços. Não sei o que me deu mais terror, se ver minha namorada morta segurando nosso bebê morto, ou saber que alguém tinha arrombado meu apartamento e colocado os dois ali”.

8) “Cara... pra onde foi aquela aranha?!”

A maioria dessas micro-histórias lida com os temas “família” e “morte”. Um elemento de fragilidade (algo delicado e precioso a ser protegido do Mal) e um elemento de ameaça. Com isto, os autores vão “direto ao nervo”, já que o formato proposto não dá espaço para caracterização de personagens. “Mãe”, “filho”, “namorada”, não são descritos além de sua função. O terror vem com a presença de “duplos”, do prolongamento maligno da vida após a morte, da presença invisível de algo estranho e ameaçador. O curioso é que algumas destas “histórias” já estão em seu tamanho ideal; aumentá-las só faria diluir seu impacto. A micro-história tem sua estética própria, é quase um episódio estático em que o tempo conta pouco. É menos narrativa do que cartum ou fotografia.