segunda-feira, 16 de maio de 2011

2557) A telenovela, quem diria (15.5.2011)



Numa entrevista à Revista E, do SESC-SP (abril 2011, número 10), Lauro César Muniz lamenta a queda de qualidade das telenovelas atuais em relação às da época em que ele criou sucessos como O Casarão, O Salvador da Pátria, etc. Muniz, que é da velha escola de dramaturgia da Globo, lembra o quanto era difícil, durante a ditadura, lidar com a censura exercida sobre um meio tão popular quanto as novelas. Imaginamos que só quem sofreu na unha da censura foram o Cinema Novo, o Cinema Udigrudi e outros movimentos de contestação pura. As telenovelas também sofriam, não porque fizessem propaganda do socialismo (embora tivesse comunistas notórios como Dias Gomes), mas porque eram vistas por dezenas de milhões de pessoas. Censor que se prezasse tinha que ficar de olho.

“Dialogávamos com os censores”, diz Lauro César. “Nossos argumentos eram bons e eles eram burocratas. Assim, conseguimos liberar algumas coisas, às vezes cedíamos em outras. Tentei colocar em cena um personagem judeu que tinha uma relação com uma não judia e fui censurado. Hoje, isso é feito à vontade. Relação entre negros e brancos não era permitido, assim como personagens homossexuais. Havia essa censura, e não conseguíamos passar por cima de tudo. Qualquer história que tivesse como mote luta de classes era muito visada. Não eram ingênuos”.

Quanto a mim (mero espectador), nem peço que as novelas de hoje abordem a luta de classes. Bastava que as situações não fossem tão caricaturais, os personagens tão grotescos, as situações tão clichê. Os diálogos das novelas (inclusive a das 8, que costumava ser a que tinha mais espessura como texto) estão uma calamidade. Quando estou visitando alguém e sou forçado a assistir um capítulo, a cada bloco tenho vontade de arranjar uma desculpa e sair da sala, porque fico constrangido de estar escutando aquilo. Preconceito? De jeito nenhum. Meu sonho na vida é ver uma novela que me dê vontade de acompanhar.

“Atualmente, a audiência dita tudo, com isso a qualidade das novelas caiu muito. Ficaram maniqueístas, esquemáticas. Todos nós estamos mostrando uma dramaturgia de mercado. Há algo perigoso que é o processo industrial, na medida em que os capítulos das novelas se estenderam e o público tem sido bombardeado pelo cinema ‘blockbuster’. Esse tipo de cinema que dominou o mercado influenciou as telenovelas. Prioriza-se a ação frenética e não a reflexão. Com isso, enchemos os nossos gabinetes de colaboradores – um grande mal. Virou o ‘fordismo’ da criação. (...) Apresentei por escrito ao Boni um projeto para diminuir o número de capítulos das novelas – hoje com mais de duzentos. Diminuindo, o autor poderia reassumir seu papel de escritor, podendo recuperar o seu estilo. Tempos depois, meu projeto foi engavetado. (...) Há uma inércia no processo, ninguém quer mudar. Só que a qualidade caiu muito, os melhores autores estão escrevendo mal suas novelas – falta estilo e autoria”.