sábado, 25 de junho de 2011

2592) O Lux Jornal e o Google (25.6.2011)



Entre as profissões em extinção no mundo inteiro certamente está a de “recortador, por encomenda, de todas as notícias de jornal referentes a uma pessoa ou entidade”. Antigamente existia uma empresa chamada Lux Jornal, que fazia exatamente isto. Quando a gente tomava parte em algum evento importante (por exemplo, estreava um show ou lançava um livro) era costume ligar para o Lux Jornal, dar o nosso nome e contratar os serviços. Durante os dias seguintes, qualquer referência que fosse publicada em qualquer jornal do país seria localizada, recortada, colada numa folha de papel (com a anotação do nome do jornal, a página e a data) e colocada num envelope. Ao fim de um período previamente acertado (uma semana, duas, um mês, etc.), esse material nos era remetido. E a gente pagava o preço combinado.

Eu já recorri ao Lux Jornal algumas vezes. Não me lembro quanto custava. Não era um preço inacessível, mas também não era uma coisa que a gente se dispusesse a contratar sem um objetivo específico (só pra ver se estavam falando na gente, p. ex.). Custava alguma grana, sim. Afinal, a empresa vivia disso, e tinha que pagar as toneladas de jornal que consumia.

O Lux Jornal foi suplantado pelo Google. E o mais interessante é que mesmo as pessoas que usavam o Lux Jornal acham que o Google é algo que surgiu do nada, que antes do Google existir não havia nada exercendo essas tarefas de busca. Reconheço que as buscas do Google são mais específicas do que a do Lux Jornal. Neste, não faria sentido mandar recortar toda matéria de jornal onde aparecesse a palavra “deputado” ou a palavra “gol”. São buscas mais variadas, também. E sempre que vejo gente celebrando o Google tudo acaba se resumindo a uma celebração da sua velocidade. Pelo que vejo, velocidade de resposta é um critério valorizadíssimo em nosso mundo. Vi há algum tempo uma imagem curiosa, o “Google Classic”, uma página do Google reproduzida como se fosse uma folha de papel impressa em estilo retrô, tendo abaixo: “Aguarde 30 dias pelos resultados”. Era exatamente o conceito do Lux Jornal. A imagem era engraçada porque obrigava pessoas do mundo de hoje a imaginar um Google que mandasse os resultados pelo correio, num envelope.

Arthur C. Clarke disse que qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia. A magia, segundo essa visão, é a produção de efeitos extraordinários sem que a gente perceba as mediações (todas as pequenas e sucessivas tarefas de ordem técnica) que produziram aquele resultado. Para mim, acender uma lâmpada elétrica não é magia, porque eu posso reconstituir mentalmente como aquilo é feito: o interruptor, o contato, a corrente elétrica, o fio, o filamento da lâmpada... Um primitivo não sabe. Ele vê a lâmpada se acender e diz “Caramuru!”. O Google é o conceito do Lux Jornal sofisticando-se até chegar a um ponto em que produzirá os resultados e nenhum de nós será capaz de entender como aquilo aconteceu.