“A mão é mais rápida do que o olho,” disse ele. Ergueu as
mãos de dedos longos; mostrou as palmas, vazias, depois o dorso delas, com
veias grossas e manchas marrons. Começou a encher o cachimbo, enquanto eu me
servia de outra taça de vinho. Ele continuou: “Quando eu tinha nove anos,
estava com minha família num restaurante de Marselha. Havia um copo vazio perto
da borda da mesa, e ao gesticular eu bati nele com a mão, assim.” Fez um gesto rápido, como de quem esbofeteia
uma criança. Soltou uma baforada e sorriu.
“Peguei o copo antes que tocasse o chão. Ninguém queria acreditar no que tinha
visto.” Eu sorri e disse: “Foi verdade
ou foi truque?” “Verdade,” disse ele,
“porque sempre fui rápido. Sabe por quê? Porque fazia antes de pensar. O olho
via, a mão agia. Esperar pelo cérebro
seria fatal.”
Corri os olhos pelo salão com paredes cobertas de
cartazes, onde o rosto e o nome dele apareciam numa variedade de cores, formas,
fotos, desenhos, em mais línguas do que eu era capaz de decifrar. “Mas,” disse
ele, “voltando ao que falamos há pouco, não há muita diferença entre tirar da
cartola um coelho ou um pássaro. Os dois são difíceis. Sempre é difícil lidar
com seres vivos. O resto... pufff!” Com a interjeição, tirou do fornilho aceso
do cachimbo um filete de água cristalina, trouxe-o pendurado entre as pontas do
indicador e do polegar, como uma fita, e o fez enrodilhar-se dentro de um copo
vazio. Estendeu-me. Bebi sem hesitar. Era água limpa, fresca.
“Fogo, água, terra, ar, substâncias comuns ao nosso mundo
como pano, papel, madeira ou metal... Tudo isto é fácil.” Ele cerrou os dedos,
e ao abri-los tinha na palma da mão uma moeda de cobre com meu nome e meu rosto
gravados. (É uma das lembranças dele que guardo até hoje.) “Pode publicar isto
na sua revista,” continuou, “porque seus leitores o olharão como meu pai me
olhou naquela noite”. Tossiu, deu um gole de vinho, voltou a fumar.