sábado, 12 de julho de 2014

3549) Escritores futebolistas (12.7.2014)




(João Cabral, no Santa Cruz, aos 15 anos)


Na juventude, Sir Arthur Conan Doyle, o criador de Sherlock Holmes, jogou de goleiro pelo Portsmouth, um clube amador de Southsea, sob o pseudônimo de A. C. Smith.  Doyle era um entusiasta dos esportes; seus Contos do Ringue e de Guerra têm histórias ótimas sobre o tempo em que o boxe era praticado sem luvas e sem limite de assaltos. A Curiosa História de Rodney Stone, que retrata essa época, é um dos seus melhores romances históricos.

Albert Camus, Prêmio Nobel de Literatura, autor de O Estrangeiro, jogou como goleiro num time universitário na sua Argélia natal, o Racing Universitaire Algerios (RUA). Teve que interromper sua carreira esportiva em 1930, devido à tuberculose. “Logo aprendi que a bola nunca vem na direção que a gente espera,” disse ele. “Isso me ajudou na vida, acima de tudo na metrópole, onde as pessoas nunca são o que parecem ser.”  

Outro Prêmio Nobel, desta vez de Física, o dinamarquês Niels Bohr, foi goleiro no Akademisk Boldklub em 1906; conta-se que ele certa vez deixou passar uma bola fácil porque estava distraído, resolvendo um problema de matemática.

Não propriamente um escritor, embora tenha publicado livros, Karol Wojtyla (Papa João Paulo II) foi outro que jogou como goleiro de clubes universitários na juventude, e era um torcedor do Cracóvia. Fã de futebol, ele acompanhava os jogos do Liverpool quando seu conterrâneo polonês Jerzy Dudek era goleiro do time do rio Mersey, e tornou-se sócio honorário do Barcelona depois que rezou uma missa no estádio Nou Camp. 

João Cabral de Melo Neto foi outro goleiro que defendeu as cores do América e do Santa Cruz do Recife, pelo qual foi campeão juvenil em 1935, e escreveu alguns belos poemas tendo o futebol como tema.

Vladimir Nabokov também jogou no gol, em São Petersburgo e depois em Cambridge, e em suas memórias (Fala, Memória!) disse: 

“Eu era louco pela posição de goleiro, uma arte galante que na Rússia e nos países latinos é cercada de um halo singular de glamour. Distante, solitário, impassível, o goleiro é seguido nas ruas por garotos maravilhados. Assim como o toureiro e o piloto de provas, ele é objeto de uma adulação emocionada. Seu suéter, seu boné, suas joelheiras, suas luvas enfiadas no bolso traseiro do calção, tudo o distingue do restante da equipe. Ele é a águia solitária, o homem misterioso, o derradeiro defensor. Fotógrafos ajoelhados em reverência o captam num mergulho espetacular, desviando com a ponta dos dedos um chute relâmpago, e o estádio estronda em aplausos enquanto ele se deixa ficar caído no chão por alguns segundos, tendo mantido intocada a sua baliza.”