quinta-feira, 11 de abril de 2013

3157) L. Ron Hubbard (11.4.2013)







Lafayette Ronald Hubbard nasceu em 1911 e durante anos foi um dos colaboradores mais entusiastas e mais prolíficos de revistas de pulp fiction como “Unknown”, “Astounding Science Fiction”, etc. Atribui-se a ele uma das frases mais famosas da FC: “Estou cansado de escrever FC pra ganhar uma merreca. Vou fundar uma religião e ficar milionário”. Foi o que aconteceu a partir de 1950, quando ele criou a famigerada Dianética, uma mistura de psicanálise e auto-ajuda. Suas promessas de saúde mental e quem sabe até superpoderes psicológicos arrebataram um grande número de pessoas, inclusive escritores como A. E. Van Vogt, John W. Campbell, etc. Hubbard ficou mesmo milionário, mas brigas internas entre os administradores do grupo o fizeram trocar em 1952 o termo Dianética por Cientologia, uma igreja paracientífica ainda hoje em plena atividade.

A melhor coisa que já li de Hubbard é a noveleta “Fear” (1940), uma arrepiante história de horror sobre um professor universitário que constata, de repente, um buraco na própria memória: quatro horas seguidas onde ele não lembra onde estava nem o que fez. Suas alucinações “dickianas”, sua progressiva destruição psicológica, e a presença constante (diálogos que o leitor lê mas o personagem não percebe) de entidades misteriosas – tudo isto faz do livro uma curta e compacta obra-prima do gênero.

Nos anos 1980 Hubbard lançou uma “decalogia” intitulada “Missão: Terra”, dez volumes dos quais traduzi os dois primeiros (“O Plano dos Invasores”, “Gênesis Negra”). É uma mixórdia indescritível de pulp fiction dos anos 1930, prosa auto-indulgente repleta de encheção de lingüiça, e um humorismo adolescente que faz o “Mochileiro das Galáxias” soar como FC existencialista francesa. Os méritos que tem são do gênero, não do autor: aquele divertido vale-tudo imaginativo que arrasta o leitor consigo pela mera sucessão vertiginosa de peripécias, situações absurdas, reviravoltas incessantes. Os ziguezagues constantes do enredo (infelizmente travado o tempo todo por diálogos longuíssimos e descartáveis) nem nos dão tempo de questionar a burrice obrigatória dos vilões e a cascata de coincidências que não cessa de favorecer o mocinho.

A melhor herança deixada por ele foram o misto de concurso e oficina “Writers of the Future”, que selecionou e revelou dezenas de bons jovens escritores (entre eles David Zindell, Karen Joy Fowler, Robert Reed), e editou várias antologias de boa qualidade. Sua memória é preservada pela Igreja da Cientologia, uma corporação articulada e poderosa que adquiriu vida própria na zona indistinta entre religião, política e auto-ajuda.