terça-feira, 4 de novembro de 2014

3649) Os Reptilianos (4.11.2014)


Tenho uma má e uma boa notícia.  Primeiro a má: os Reptilianos existem. (São aqueles seres possivelmente alienígenas, que se metamorfoseiam de humanos para conviver na sociedade humana, mas nos momentos mais sutis se desmascaram, mostram sua natureza iguana, sua vocação serpente, sua frieza réptil.)  Para compensar, digo logo a boa notícia: somos nós mesmos.  Ou, como dizia um personagem da tirinha de Al Capp, “they is us”.  Eles é nóis.

Minha teoria é de que os Reptilianos não são uma espécie biológica, algo que se distingue da nossa pela diferença genética.  Os Reptilianos são um estado de espírito.  São um software mental, um conjunto de ações, reações, estímulos, reflexos, impulsos, tudo executado por humanos biologicamente iguais a nós.  Por nós mesmos, na verdade. Eles não têm o corpo diferente do nosso, eles têm o corpo da gente, a mente deles é que é outra linguagem, outro volapuque, outro Fortran.

Eles têm uma moral binária; só enxergam sim ou não, preto ou branco.  (Isso vale para os répteis, mas não para ao mamíferos, que é o que somos por “default”. Só viramos reptilianos quando começamos a ver TV.)  Eles dominam um conjunto de algoritmos super complicados que lhes permitem, em fração de segundo, criar diante de qualquer massa de dados duas categorias nítidas (sim/não, on/off, etc.) e despejar tudo nesses dois pratos da balança.  No mundo mental deles, tudo deve ser dividido binariamente, porque na verdade eles são comandados por um cérebro primordial que divide tudo em “a favor / contra”.  O que é a meu favor deve ser preservado; o que é contra mim precisa ser destruído.

Os Reptilianos derivam com facilidade para o esporte e a política, duas atividades onde, por mais que haja “áreas cinzentas”, tudo se decide com resultados numéricos: sim/não, ganhou/perdeu, campeão/vice, governo/oposição.  Uma das frases preferidas dos Reptilianos, ao discutir, é: “Você tem que optar por um dos dois, não pode ficar em cima do muro”, porque para eles é imprescindível estar contra ou a favor deles.  Se eles dizem que a humanidade se divide entre os que gostam de hamburger e os que gostam de pão francês com bife, você tem (pra eles) a obrigação moral de optar por um dos dois. Não pode simplesmente dizer que essa divisão lhe parece irrelevante ou capciosa.

Estamos sendo treinados (pela imprensa, pela TV, pela Internet) para raciocinar sempre nesses termos, “meu lado / o outro lado”, “comigo / contra mim”.  Por que? Não sei, pode ser que os Reptilianos estejam se preparando para uma batalha e precisem de soldados assim, que dividam conceitos com presteza, obedeçam com eficiência, destruam sem remorsos.