segunda-feira, 28 de maio de 2012

2881) O tamanho do futuro (27.5.2012)




(ilustração: Frank R. Paul)

Histórias de ficção científica situadas no futuro geralmente se dividem em histórias de “futuro próximo” e de “futuro remoto”.  Se estamos em 2012 e meu romance se passa em 2035, trata-se de um futuro próximo, em que o Brasil, a Terra, os países, a tecnologia etc. serão certamente bem parecidos com os atuais, ressalvando-se as mudanças imaginadas pelo autor.  Por outro lado, se eu ambiento meu romance no ano 25.000 estarei visualizando uma Terra completamente imaginária, porque não há como fazer suposições cabíveis sobre o estado da Humanidade daqui a tanto tempo. Tudo fica a cargo da liberdade imaginativa de cada autor. Ambos os “futuros” têm o seu charme, o seu interesse, e podem gerar boas histórias.  (Pessoalmente, prefiro ler e escrever histórias de futuro próximo, mas alguns dos melhores livros que li foram de futuro remoto).

O pessoal do saite “io9” se deu o trabalho de responder uma pergunta interessante: que tipo de futuro foi mais escolhido pelos autores de FC em cada época?  Eles explicam que o levantamento feito não é científico, pois computou apenas 250 obras (livros, filmes, quadrinhos) escolhidas aleatoriamente, e lançadas entre as décadas de 1880 e 2000. (Acredito que um levantamento minucioso nos dará resultados bem diferentes; mas vamos dar valor ao esforço da rapaziada.)  E estabeleceram 3 tipos: Futuro Próximo (até daqui a 50 anos), Médio (entre 50 e 500 anos) e Remoto (de 500 em diante).

Eles mostram num infográfico (http://on.io9.com/LkyWqK) que nos anos 1880, por exemplo, houve 13% de obras de Futuro Próximo, 52,2% de Médio e 34,8% de Remoto.  Algumas décadas são especialmente interessantes: as maiores incidências de obras sobre Futuro Próximo são nas décadas de 1900 (53,8%) e 1980 (59,2%).  Histórias ambientadas num Futuro Remoto tiveram seu auge na década de 1930 (48%) mas nos anos 1990 caíram para espantosos 2,7%, o menor índice de toda a pesquisa.  O Futuro Médio é o mais consistentemente explorado nessa amostra, tendo tido metade ou mais das obras em 5 diferentes períodos (o Futuro Remoto, por sua vez, nunca foi maioria).

O que dizem estes números? Poucas coisas, e não muito confiáveis (pela pequenez da amostra), mas se algumas dessas tendências se confirmarem num estudo mais sério elas indicam que a FC vem se preocupando muito mais com futuros extrapolados a partir do presente do que com futuros totalmente arbitrários e imaginativos. Isso nada nos diz sobre a qualidade literária dessas obras, mas diz bastante sobre a “história das mentalidades” das pessoas e das épocas envolvidas. Seu interesse e sua aplicação não são de natureza estética, apenas sociológica.