segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

2737) Contracapa de skype (11.12.2011)



(mancha solar; foto da Nasa)

& um poema são instruções para mudar seu modo de pensar & uma espaçonave sentiente viajando vazia para descobrir sozinha a galáxia & vejo relâmpagos vermelhos no fundo do mar, e vêm subindo & não tem problema na vida que um acidente de moto não resolva & quando me deito pra dormir e me cubro com o lençol sinto como se ele fosse o sudário de Turim & a política é uma guerra entre formigas, as pretas invadindo um buraco aqui, as vermelhas fugindo às pressas de outro, lá no outro quarteirão & a lei é para todos, a transgressão para quem se atreve & primeiro saciar a fome, depois fazer amizade com os sobreviventes & pirata de verdade gosta menos do brilho do ouro do que do som do aço & uma freira cruzando devagar uma ponte deserta à meia-noite & a vida é uma queda do alto de um arranha-céu com um milhão de andares & dez centavos de cada cidadão chinês quebravam meu galho pro resto da vida & a olho nu é difícil distinguir entre uma estrela e uma galáxia & ainda não sei o que é mais ominoso, um ataúde ocupado ou um ataúde vazio & mundo globalizado é aquele em que você embarca para Londres, vai parar em Varsóvia, e sua mala no Gabão & a memória é um museu sem portas nem porteiros, onde qualquer um leva e traz o que bem entende & marcapasso coisa nenhuma, vou implantar é um bate-estacas & o Coliseu se erguia na colina como um dente cariado & e pensar que a Humanidade passou séculos tentando inventar um avião que batesse asas & tem gente que leva uma vida como a das formigas, correndo e cortando, trazendo pra casa e correndo de novo & a memória é um cesto de guardar água & um mercenário insone, de arma em punho, vigiado por um milhão de camponeses & quem me dera ser como o cavalo do Barão de Munchausen, e a bebida descer direto pro chão & a lua vem surgindo cor de nata & “Deus”: uma palavra que só serve para encerrar discussões interessantes & o sedutor trata uma mulher como um turista trata uma cidade & seria tão bom se existissem minibombas atômicas com que a gente se detonasse à noite, e na manhã seguinte acordasse bem normal & em algum lugar existem as árvores que produzem moscas, mosquitos, vespas, varejeiras & poemas cuneiformes gravados num queijo minas & uma prestidigitador que pegava um romance na estante, fazia um gesto, e um personagem desaparecia da história & a insônia é um carro trancado na garagem com o motor ligado & no casamento é preciso saber a hora de ser locomotiva e a hora de ser vagão & vivo oscilando entre o constrangimento por ganhar pouco e o remorso por ganhar muito & ser livre é estar vivo, o resto é choradeira &