quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

3710) 13 coisas que eu vi (14.1.2015)



Eu era pequeno e vinha chegando de ônibus em João Pessoa e naquela pontezinha do rio Sanhauá vi uma menina se equilibrando na passarela de uma palafita, e ela escorregou sem querer e caiu com tudo dentro da água.

Num hotel em Campos (RJ), eu esperava no estacionamento o carro que vinha me buscar, quando vi um hóspede parar junto de um carro todo empoeirado e escrever no vidro com o dedo: LAVA-ME POR FAVOR.

No metrô de Paris eu vi uma mulher de seus 75 anos de pé, vestindo roupas surradas, com o braço estendido e a mão em concha. Quando alguém lhe dava uma moeda, ela fechava os olhos de vergonha, e abaixava a cabeça.

Eu estava na rua olhando uma construção, e um pedreiro, do chão, jogava tijolos para outro no segundo andar, ambos ocultos por paredes, de modo que eu só via os tijolos se elevando no ar e sumindo dentro do prédio.

No ônibus para ir à rodoviária de Salvador eu passava por um campo de pelada onde bem no meio tinha um toco de árvore com um metro de diâmetro, a galera inclusive tabelava a bola no toco pra driblar os adversários.

Eu estava mexendo nos livros na estante de nossa casa na Rua Padre Ibiapina e vi uma lagartixa morta, ressecada. Ela ficou presa embaixo de um livro e morreu de fome, e o livro era a Bíblia Sagrada.

Numa rua do Flamengo eu vi, da janela do ônibus, dois caras discutindo na calçada. Um deles, mais alto, segurava pela mão o filhinho de 3 ou 4 anos. O outro era quem gritava mais, e a certa altura esbofeteou o mais alto no rosto. O cara não reagiu, e o filho não olhava para o agressor, olhava apenas para o rosto do pai.

Num lago congelado no centro de Amsterdam, vi a queda estrondosa de um patinador que devia pesar uns 200 quilos, e só depois criei coragem para atravessar o lago a pé.

Voltando de uma viagem ao Vale do Jequitinhonha, o ônibus parou para o almoço num restaurante de beira de estrada, e eu vi no quintal um papagaio, amarrado por uma correntinha a um bujão de gás no terreiro.

Vi na porta de um banheiro da Universidade Católica de BH a frase escrita a caneta, “Che Guevara não morreu”, e logo abaixo: “Deve estar comendo sua mãe agora.”

Perto de Triunfo (PE) eu vi um sítio cuja cerca de arame estava cheia de CDs pendurados, talvez para refletir o sol e afugentar os bichos.

No interior da Paraíba eu atravessei uma ponte sobre um rio seco, em cujo leito se via uma porteira, pois tinha virado caminho de gado.

Em Campina, perto da Faculdade de Filosofia atrás da catedral, eu ia andando com Leopoldo, um datilógrafo, e ele viu o salto de um sapato emergindo da terra e o arrancou, aí disse que sempre que via aquilo pensava que tinha um cara enterrado ali de cabeça pra baixo.