quarta-feira, 17 de outubro de 2012

3005) "Breaking Bad" (17.10.2012)




Esta série de TV está em sua quinta temporada nos EUA. (No Brasil, passa no Canal AXN.) Já vi as duas primeiras e estou vendo (a conta-gotas) a terceira. A vantagem de ver as séries com atraso é não ter que esperar uma semana pelo próximo episódio; meu filho baixa e a gente faz uma maratona de dois por noite. Breaking Bad é a história de Walter White, um professor de química, tímido e bundão, que ao saber que está com câncer e tem somente um ano de vida decide fabricar e vender drogas (secretamente) para deixar um pé-de-meia para a família. O diferencial de Walter é que ele é um químico dos mais CDF, e a metanfetamina que ele fabrica é de uma pureza demolidora. Ele e seu “assistente”, um ex-aluno meio rebelde e meio desnorteado, açambarcam o mercado daquela região fronteiriça com o México. onde a história se passa.

A série se vale principalmente de um excelente roteiro e de atores encaixadíssimos nos papéis. Cada personagem tem uma história de vida suficientemente variada e complexa para proporcionar reviravoltas a qualquer momento, e um dos prazeres da série é ver como tudo se encaixa, e como certos fatos têm uma mecânica de tragédia grega – a gente “canta a pedra” com muita antecedência e fica roendo as unhas à espera da sucessão de catástrofes em que se transforma a vida de Walter (o ótimo ator Bryan Cranston) em sua tentativa de levar uma vida dupla de pai de família respeitável e chefão do tráfico nas horas vagas. O título, acho, significa algo como “Chutando o pau da barraca e virando um caba ruim”.

Há uma leve tintura de David Lynch em certas imagens inesperadas, surrealistas, que depois são justificadas dentro da narrativa. A cidade onde tudo se passa, Albuquerque (Novo México), é uma espécie de Campina Grande, com tamanho suficiente para o sujeito ter uma vida dupla sem ser descoberto, mas não tão grande que ele não esbarre com conhecidos nas horas mais impróprias. Walter é um Jekyll-e-Hyde, um obsessivo capaz de destruir vidas humanas para garantir o futuro da esposa, do filho com leve paralisia cerebral e do bebê que nasce durante essa confusão toda. Os chefões são personagens fascinantes,  cheios de complexidade e de nuances, servidos por excelentes diálogos e uma narrativa de cenas curtas, secas, que vão direto no osso. É o mundo da droga fabricada e vendida por caras que jamais a usariam, porque não são malucos. “Eles são adultos, fazem isso por livre arbítrio”, diz um fabricante. Esta crítica ao nosso conceito ingênuo de liberdade é um dos aspectos mais desconfortáveis dessa história brutal, cômica, cínica, emotiva, cruel. Um dos melhores “filmes” sobre drogas.