quinta-feira, 6 de novembro de 2014

3651) Os cinco sentidos (6.11.2014)



“Audição, visão e tato / mais olfato e paladar”: são os nossos cinco sentidos, que conhecemos desde a infância.  A audição é o mais abrangente deles (a vista alcança mais longe, mas só vemos o que está à nossa frente, e não como ouvimos, em 360 graus à nossa volta).  Nosso olfato tem pouca utilidade, e nos serve mais para o prazer do que para o trabalho.  A boa cozinha é uma homenagem simultânea ao olfato e ao paladar.  O tato é, como os dois anteriores, sujeito à contiguidade física: só funciona ao termos contato físico com o outro objeto.  Visão e audição (e olfato, um pouquinho) nos mostram o mundo à nossa volta; tato, paladar e olfato nos dão informações sobre algo físico com que fazemos contato.



Daí que a expressão “sexto sentido” seja tão usada, porque volta e meia estamos percebendo algo, ou tendo a sensação de algo, e não sabemos como encaixar aquilo nesse repertório tão limitado.  Li agora um oportuno post de Mark Lorch (aqui: http://tinyurl.com/kn2ghdv) sobre noções científicas superficiais que aprendemos na escola e nunca mais nos livramos. Uma delas, diz ele, é essa limitação de “cinco sentidos”.  Na verdade, temos mais do que isso.



Sentimos o movimento com acelerômetros localizados no vestíbulo, uma região do ouvido interno.  Nosso sentido de equilíbrio se deve ao movimento de fluidos através de canais muito finos, também nos ouvidos: se você ficar tonto, vai sentir um perturbação desse sentido, que usamos o tempo inteiro. O autor também diz: “Quando prendemos a respiração, sentimos nosso sangue se tornando mais ácido à medida que o dióxido de carbono se dissolve nele formando o gás carbônico”.  Bem, eu nunca senti isso, mas quem sou eu para questionar os sentidos alheios; vai ver que sou daltônico nesse aspecto. 



Lorch argumenta: “Não estou sugerindo que comecemos a ensinar a crianças de seis anos coisas estudadas em laboratórios ganhadores do Nobel, nem que o currículo deles seja soterrado de detalhes a respeito de dezenas de sentidos. Mas podíamos parar de contar lorotas.  Podíamos dizer, por exemplo, numa aula de biologia: Nós temos muitos sentidos, e estes aqui são os cinco que vamos estudar.” 


O texto de Lorch questiona estas e outras simplificações, que têm função didática mas acabam se transformando em Tábuas da Lei. Os três estados da matéria, por exemplo (sólido, líquido e gasoso): ele mostra que existem vários outros inclusive o plasma, que é o estado da matéria que compõe o sol.  Dizemos três estados como dizemos cinco sentidos: para facilitar, para poder concentrar o foco em algo mais presente na nossa experiência diária.  Mas a realidade sempre vai muito além disso.