terça-feira, 13 de dezembro de 2011

2738) Lá vem o Barça (13.12.2011)



(Xavi: 600 jogos pelo Barcelona)

Parei tudo, no sábado passado, para assistir Real Madrid x Barcelona, que nos últimos anos andou ganhando o status de O Maior Jogo do Mundo. São dois grandes times, de futebol refinado, raça impressionante, e que cultivam uma rivalidade histórica. Mesmo que estejam ambos caindo aos pedaços e sem aspirações a um título, quando entram em campo para se enfrentar é como se estivessem jogando a vida e a alma. É uma disputa além do futebol. Historicamente, o Barcelona se identifica com a esquerda e com a resistência republicana durante a Guerra Civil espanhola dos anos 1930. Já o Real Madrid se identifica com a monarquia e com os exércitos franquistas que venceram a Guerra Civil. Nem preciso dizer que torço pelo Barça. (E que milhares de torcedores do Real vão me escrever agora dizendo que minha descrição é desinformada e injusta.)

No jogo de sábado, diante de 80 mil torcedores (dos quais apenas 500 do Barcelona), o Real abriu o placar com 25 segundos, fazendo o mundo vir abaixo. Pressionou por meia hora, e poderia ter feito mais um ou dois gols, liquidando o jogo. Não fez. O Barcelona assimilou o golpe, botou a bola no chão e os nervos no lugar, e empatou. No segundo tempo, jogou como quis; o Real voltou a desperdiçar chances e o Barça conseguiu mais dois gols, calando o estádio.

O futebol do Real é vigoroso, rápido, ofensivo; seus jogadores chutam de longe com uma força e precisão impressionantes, e cada ataque do time é uma “blitzkrieg”. O jogo do Barcelona é miúdo, rápido, envolvente. Não entendo muito desses esquemas táticos de hoje, tipo 3-4-1-2 ou 4-2-1-3. Parece, no entanto, que a ordem no Barça é: não importa onde esteja a bola ou com quem, deve haver sempre 4 ou 5 jogadores fazendo um círculo em volta dela, prontos para tomá-la do adversário ou recebê-la do companheiro. É um jogo de impressionante velocidade, não a velocidade de arrancada rumo ao gol que é a cara do Real, mas velocidade de raciocínio e de visão, numa troca rápida de passes curtos até que a bola chega a um jogador em condições de chutar a gol ou dar o derradeiro passe.

O passe de primeira faz o Barcelona estar sempre um segundo à frente do adversário, no desenrolar da jogada. Vejo tantos jogadores hoje em dia que recebem a bola, param para pensar no que farão, e num piscar de olhos são desarmados. Uma vez perguntaram ao grande Capablanca quantas jogadas um Grande Mestre do Xadrez tinha que pensar antecipadamente. Ele disse: “Basta uma, desde que seja a jogada certa”. O Barcelona está sempre um toque, um segundo à frente do adversário, e é o que lhe basta para ganhar qualquer jogo, inclusive O Maior Jogo do Mundo.