A expressão “sense of wonder”, um dos conceitos chaves da
ficção científica, significa algo como “sentimento ou sensação de
maravilhamento, de assombro, de deslumbramento” e busca reconstituir aquela
epifania de olhos arregalados dos garotos de 11 anos que pegavam uma revista de
pulp fiction como Amazing Stories e se deparavam com histórias sobre fendas
transdimensionais através das quais se vislumbrava uma cidade futurista em
outro planeta, ou uma máquina do tempo que levava caçadores para safaris
jurássicos, ou a descoberta de uma Atlântida viva e florescente sob uma cúpula
no fundo do mar, ou sobre três crianças tidas como retardadas que, juntas,
compunham a mente mais poderosa da humanidade...
Era a sensação de ser capaz de imaginar um mundo além do
mundinho restrito casa-cinema-parque-escola da maioria dos garotos urbanos, ou
casa-riacho-cavalos-escola dos garotos rurais. A FC cresceu investindo na
receptividade dos adolescentes às idéias malucas, idéias transgressoras, idéias
fora de esquadro. Idéias que inquietavam e incomodavam os pais excessivamente
preocupados com as notas do boletim e as futuras perspectivas de emprego. Faz
parte de ser pai viver assim; e faz parte de ser jovem essa permanente
disposição para se maravilhar, se entusiasmar, se apaixonar por idéias
arrevezadas, teorias insólitas, enredos mirabolantes. Ser jovem é acreditar que
tudo é possível. Quando a gente deixa de acreditar nisso, não importa em que
idade, deixou de ser jovem.
Para um adolescente, não há muita diferença entre ler sobre
o Budismo ou ler sobre o Mercerismo que Philip K. Dick inventou em Do androids
dream of electric sheep?. Não há muita diferença entre EUA & Cuba e os
planetas gêmeos (um capitalista, o outro anarquista) de Os despossuídos de
Ursula Le Guin. Tudo existe no território impreciso das coisas que acabamos de
conhecer. É mentira? É verdade? No momento não importa: importa a emoção vívida
da descoberta, aquele “Puxa vida, nunca imaginei que...”, aquela mistura de
êxtase, receio, curiosidade, vontade de seguir em frente para ver onde é que
aquilo vai dar. Os garotos vão ser cientistas? As garotas vão ser romancistas?
Não importa. Seja qual for o seu destino, serão, sempre, pessoas capazes do
prazer de imaginar.