domingo, 9 de maio de 2010

2021) O destino de Stebanius (30.8.2009)



O destino de Stebanius foi diferente do destino de Sísifo, a quem cabia empurrar uma pedra rumo ao alto de uma colina, apenas para vê-la, mal chegava lá em cima, rolar de volta ao vale. Stebanius era um filólogo, morador da cidade de Tebas, que desafiou um dia os deuses, dizendo que detestava Tebas e nem os deuses haviam de impedi-lo de ir embora para Atenas quando lhe desse na telha. Nessa mesma noite, durante o sono, os deuses o amarraram a um cordel invisível cuja outra ponta foi atada a um obelisco no centro de Tebas. O cordel era longuíssimo, tanto que Stebanius durante muito tempo não percebeu que estava atado a ele. Na primeira vez em que procurou deixar a cidade, começou a sentir que algo puxava sua cabeça para trás. Achou aquilo estranho, mas seguiu estrada afora. O cordel era elástico. Quanto mais Stebanius marchava mais distendia aquela resistência, e aumentava a força invisível que o puxava de volta. Ele pediu carona a uma biga que passava, e pediu que chicoteassem os cavalos. A biga disparou. O cordel elástico foi retesado ao ponto máximo, e de repente Stebanius viu-se projetado para trás, de volta a Tebas, dando 50 voltas em torno do obelisco até que o cordel inteiro ficou enrolado ali como num carretel. Isto se repetiu, com variações, em suas tentativas seguintes de ir embora dali.

Os deuses (outros, diferentes dos primeiros) apiedaram-se de Stebanius e resolveram, compensar sua desventura. Incapazes de desfazer o cordel já criado (pois nem mesmo os deuses podem desdizer o que outros deuses terão dito), criaram em Atenas (atado a uma coluna do Partenão) um cordel semelhante e o esticaram até Tebas, amarrando-o em torno do torso de Stebanius. O resultado imediato disto foi arrastar o desventurado filólogo, com a velocidade de uma flecha, na direção de Atenas, puxando-o a uma velocidade supersônica rumo à Acrópole, onde ele esbarrou de encontro às colunas do templo com uma força proporcional à distância e à velocidade envolvidas, sendo que no instante seguinte o cordão tebano entrou em atividade, trazendo-o de volta rumo às arestas do obelisco onde estivera atado, e assim por diante.

Este movimento de ioiô prolongou-se até o momento em que (como previra Pitágoras) as duas forças contrapostas se equilibraram e Stebanius quedou-se a meio caminho entre as duas cidades-Estados, pendurado e bracejante a alguns metros de altura (devido à diferença de ângulo entre os dois pontos que o retinham). Caravanas e viajantes solitários que trilhavam aquela movimentada rota acostumaram-se à visão do filólogo suspenso, e com frequência paravam para trocar com ele dois dedos de prosa e pedir-lhe informações sobre o tráfego, o clima, as distâncias, a proximidade de salteadores. Com o tempo, Stebanius passou a cumprir funções de oráculo. Respondia a tudo, e com bastante propriedade, aliás. Só não lhe pedissem para explicar como tinha ido parar ali, e o que estava fazendo.