Estou coordenando, para a Escola de Cinema Darcy Ribeiro (Rio de Janeiro) uma Mostra do Cinema Fantástico, com filmes todos os sábados às 14 horas, entrada franca. A escola fica na esquina da Rua 1º. de Março com Rua da Alfândega, pertinho do CCBB. (Após a sessão, haverá debate o prof. Sérgio Almeida.)
Hoje
será exibido Ladrão de Sonhos (“La cité des enfants perdus”, 1995), dirigido
por Jean-Pierre Jeunet e Marc Caro. O filme conta a história de um cientista
que para não envelhecer precisa roubar os sonhos das crianças que sequestra. Ele
pluga seu cérebro no cérebro dos meninos (Matrix usou recursos visuais
análogos) mas se aterroriza com seus pesadelos. Seu esconderijo, num cais do
porto brumoso e decadente, é habitado por uma anã, um grupo de clones (todos
interpretados por Dominique Pinon, ator-mascote dos diretores), e variadas
criaturas com elementos de cyborg ou de vilão de seriado.
Jeunet
e Caro estrearam com Delicatessen (1991), que tem a mesma atmosfera surreal,
semifuturista (mas um futuro sem muita lógica), personagens grotescos, cenários
delirantes, um clima “steampunk”. Cada imagem nos projeta num ambiente de
tecnologia do século 19, com elementos de um futuro pouco plausível. Os
personagens são caricaturas; comportam-se como personagens de desenho animado,
sem muita preocupação com realismo emocional.
Jeunet
separou-se depois de Marc Caro (que é mais cenógrafo do que diretor) e realizou
filmes como Alien: Ressurrection (1997), O Fabuloso Destino de Amélie
Poulain (2001), Eterno Amor (2004) e outros. Embora seus filmes tenham uma
incessante criatividade visual e narrativa, ele nunca mais produziu delírios
tão consistentemente fantásticos quanto esses dois primeiros filmes, mistura de
surrealismo, ficção científica, quadrinhos, velhos seriados.
Os
filmes de Jeunet & Caro são exemplos do que chamo de Ciência Gótica:
histórias repletas de elementos científicos (máquinas, laboratórios,
instrumentos, experimentos químicos e físicos), mas desprovidas voluntariamente
da lógica científica. É uma ciência cenográfica, acima de tudo, porque o mundo
onde esses adereços se amontoam é um mundo Gótico: sombrio, ominoso,
inexplicável, resistente à lógica e aos sentimentos, um mundo onde os seres
humanos parecem máquinas de outro tipo, executando ações insensatas e brutais.