quarta-feira, 8 de outubro de 2014

3625) Pulp Fiction (8.10.2014)





Se você se avizinhasse de uma banca de revistas cinquenta anos atrás, perceberia, além da ausência de DVDs-de-brinde e de revistas pornô, a presença de uma miríade de livrinhos de bolso para vender. Os anos 1960 foram a Pocket Revolution, iniciada aqui, pelo que me consta, com as “Edições de Ouro” da TecnoPrint, com suas séries famosas de literatura de gênero: Futurâmica, Terror, Policial, Criminal, Aventuras... Logo surgiram séries dos grandes mestres: Agatha Christie, Erle Stanley Gardner, Ellery Queen, Rex Stout, e detetives de grande sucesso popular como Shell Scott, Chester Drum, Mike Shayne, Al Wheeler... Todos saíram às dúzias pelas “Edições de Ouro”.



Mas não eram os únicos. Nos sebos achamos remanescentes dessa fase em que o livrinho de bolso reinou soberano na jângal da literatura barata. Não dá para saber até que ponto eram mal escritos ou mal traduzidos.  No caso da FC, eram a pulp fiction norte-americana no que ela tem de mais melodrama, mais clichê, mais invencionice bizarra.  Livros com títulos como Zym domina o mundo, Homens-monstros do espaço, Os vespões de ouro, O terror da sexta lua... De vez em quando um deles era um clássico, de autor famoso, e a gente só ficou sabendo 20 anos depois.



Nos EUA, as revistas tinham sido o refúgio e a estufa protetora dessa literatura nos anos 1920-30-40. A partir da década de 1950, os pulp magazines, lá, começaram a ser substituídos pelos livros de bolso.  Uma banca de revistas podia exibir uns vinte exemplares simultâneos com histórias de Lester Dent, Hugh B. Cave, autores que sob o pretexto geral de “aventura” passeavam pela FC e pela fantasia, ou se concentravam num gênero, como foi o faroeste para Zane Grey, Louis L´Amour, Max Brand.


O Brasil teve revistas de pulp fiction (A Novela, Detetive, Mistérios, Meia Noite, X-9, Suspense, etc.) e teve a floração de livrinhos de bolso a partir de fins dos anos 1950.  A convivência competitiva entre revistas e livrinhos aconteceu aqui também, nos termos da indústria local. Os termos brasileiros, no caso dos livros de bolso, consistiam em traduzir o que fosse mais financeiramente acessível, publicando raros autores locais.  Alguns brasileiros aceitavam assinar nomes estrangeiros. Rubens Francisco Lucchetti, Jeronymo Monteiro, todos usaram pseudônimo.  Quando eu traduzia para a Editora Récord, vim a conhecer Gilson Soares, tradutor e revisor, que escrevia os romances de Miguel “Chucho” Santillana, autor de dezenas de livrinhos da Bruguera que ninguém teria comprado se ele os assinasse com seu nome verdadeiro.  Alguém precisa escrever a História Secreta da Pulp Fiction no Brasil.