sexta-feira, 7 de março de 2008

0081) Quem foi Landell de Moura? (25.6.2003)




O Brasil é cheio de gênios desconhecidos. 

Entre eles, um dos mais interessantes é o padre jesuíta gaúcho Roberto Landell de Moura (1861-1928), um precursor da rádio-telefonia sem fio. 

Depois da invenção do telégrafo com fio, de Morse (1837), os últimos anos do século 19 foram a época das grandes invenções na telecomunicação à distância, com Graham Bell criando o telefone em 1876 e Marconi a telegrafia sem fio em 1895. 

Landell de Moura, entre 1890 e 1894, realizou experiências em São Paulo, onde vivia, transmitindo sinais e vozes a uma distância de 8 km. A imprensa noticiou, mas Landell tinha dificuldades em conseguir as famosas verbas oficiais para pesquisa e fabricação de equipamento, tendo chegado a oferecer suas descobertas, gratuitamente, ao cônsul da Grã-Bretanha.

Landell foi em 1901 para Nova York, onde morou por três anos, e requereu sucessivas patentes de seus inventos, que consistiam basicamente na transmissão de ondas luminosas moduladas, reproduzindo os sons que nelas interferiam. 

O livro de Ernâni Fornari O incrível Padre Landell de Moura (Rio, Biblioteca do Exército, 1984, 2a edição) detalha as numerosas variantes dos aparelhos criados pelo cientista, além de reproduções em fac-símile das patentes norte-americanas, dos diagramas técnicos e de matérias de jornal sobre o cientista.

Voltando ao Brasil em 1904, Landell tentou oferecer seu invento ao Presidente Rodrigues Alves. Ao ser recebido pelo oficial de gabinete do presidente, deixou-se levar pelo entusiasmo ingênuo de tantos cientistas. Sendo perguntado sobre o alcance das transmissões do aparelho, afirmou que não havia limites, e que no futuro seu invento poderia ser usado até para a comunicação com outros planetas. Foi mandado de volta para casa com uma promessa de que o Presidente o chamaria em breve para conversar. Tu chamasse? Nem ele.

Landell era olhado com desconfiança até pelas autoridades eclesiásticas, que estranhavam aquele padre construindo caixas cheias de fios elétricos e falando dentro delas. Aos poucos foi se desiludindo. As patentes norte-americanas caducaram sem que ele pudesse fabricar os equipamentos. 

Morreu em 1928, tido como um sujeito esquisito, mas adorado pelos paroquianos. Deixou dezenas de cadernos manuscritos onde estuda eletricidade, psicologia, mecânica. 

B. Hamilton Almeida (Landell de Moura, Porto Alegre, Editora Tchê, Coleção Esses Gaúchos, 1984) compara o ostracismo sofrido por ele ao do filósofo e paleontólogo Teilhard de Chardin, que não foi autorizado a publicar em vida a maior parte das suas obras.

O padre Landell é uma metáfora da ciência no Brasil. Não precisa ter sido um gênio; foi apenas mais uma mente com aptidões que não eram consideradas necessárias em seu ambiente social. Pior do que as fogueiras da Inquisição são os baldes de água fria da indiferença.




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