domingo, 6 de outubro de 2013

3310) A revista "Planeta" (6.10.2013)




Num debate recente no VII Fantasticon, em São Paulo, juntamente com Manuel da Costa Pinto, o escritor Ignácio de Loyola Brandão recordou os anos em que foi editor da revista Planeta, a grande divulgadora do realismo fantástico no mundo ocidental. Como lembro Loyola, a edição original francesa (Planète), surgiu em consequência do enorme sucesso do livro O Despertar dos Mágicos de Pauwels & Bergier (1960), livro que abordava temas obscuros como alquimia, holística, ocultismo, cabala, etc.  No ano seguinte os autores criaram a Planète, que em seu pico de vendagem chegou a mais de 100 mil exemplares.

Loyola comentou que, na época, era editor da revista Cláudia, onde publicava textos sobre moda, decoração, beleza, etc. Quando lhe ofereceram pilotar a edição brasileira da Planète, mesmo ganhando menos, não hesitou. Segundo ele, o número 1 da revista (que era mensal) teve tiragem de 20 mil; o 2, de 30 mil; o 3, de 40 mil.  Com poucos meses a revista atingiu e manteve um pico de vendagem de 120 mil cópias por mês, comparável à da edição francesa. Diz Loyola que houve um fato curioso: quando a Planeta pôs Chico Xavier na capa, no número seguinte a vendagem caiu para 70 mil, e foi preciso um longo tempo para voltar ao patamar anterior. Sinal de que? Segundo ele, um certo preconceito contra o espiritismo, na época. (E eu digo: se fosse hoje, com o recrudescimento da pregações religiosas, Chico Xavier faria aumentar a circulação da revista – que aliás ainda existe, só que noutro formato, e com uma orientação místico-religiosa totalmente diferente).

Loyola disse que ficou na Planeta de 1971 a 1979, e que considera este período crucial para que assuntos como OVNIs, sociedades secretas e mistérios arqueológicos começassem a ter um tratamento sério por parte da imprensa. Por outro lado, a Planeta publicava autores como Lovecraft, Borges, Sheckley e outros ligados ao fantástico e à FC. Umberto Eco, que fazia críticas à revista (“A mística de Planeta”, em Viagem na Irrealidade Cotidiana, 1984) , concede que a Planète foi “o primeiro caso de uma revista de luxo que se torna um acontecimento de massa”.  No Brasil, a revista serviu como um aglutinador de ufólogos, ocultistas, forteanos, estudiosos da alquimia e da Cabala... e de leitores de ficção científica. A presença de contos de FC no meio de artigos sobre Gurdjieff ou a Atlântida trazia o gênero de volta ao universo da pulp fiction, onde em termos de imaginação vale tudo. A Planeta formou minha geração, e ajudou a dar-lhe uma abertura européia bem-vinda num contexto editorial totalmente dependente dos EUA.