quinta-feira, 6 de junho de 2013

3205) Aqui no Brasil (6.6.2013)




Ver o Brasil pelos olhos dos estrangeiros é uma atividade educativa, divertida, surpreendente. Coisas que nem sequer enxergamos chamam a atenção deles como se fosse um palavrão num outdoor. Uma dica de Humberto Werneck me levou ao blog do francês Olivier Teboul, que faz (aqui: http://bit.ly/10SzdnQ) uma série de comentários bem humorados.

Diz ele a certa altura: “Aqui no Brasil , as pessoas acham que dirigir mal, ter trânsito, obras com atraso, corrupção, burocracia, falta de educação, são conceitos especificamente brasileiros. Mas nunca fui num país onde as pessoas dirigem bem, onde nunca tem trânsito, onde as obras terminam na data prevista, onde corrupção é só uma teoria, onde não tem papelada para tudo e onde tudo mundo é bem educado!” Olivier acha que, embora otimistas e alegres, nós brasileiros temos um complexo de inferioridade, especialmente em relação aos EUA. Achamos que só quem tem esses defeitos somos nós, e que o resto do mundo civilizado é livre deles.

Diz também: “Aqui no Brasil, não se assuste se estiver convidado para uma festa de aniversário de dois anos de uma criança. Vai ter mais adultos do que crianças, e mais cerveja do que suco de laranja. Também não se assuste se parece mais com a coroação de um imperador romano do que como o aniversário de dois anos. E ‘normal’.” Neste ponto eu sou meio estrangeiro. Nos últimos 20 anos, as festas infantis parecem, sim, a coroação de pequenos Calígulas onipotentes. Depois se queixam.

Pequenos detalhes significativos: “Aqui no Brasil, o polegar erguido é sinal pra tudo : ‘Tá bom?’, ‘obrigado’, ‘desculpa’.” Uma linguagem universal que nos ajuda muitíssimo a amenizar os “quatrocentos golpes” com que incomodamos os outros no dia-a-dia. Outro detalhe pitoresco: “Aqui no Brasil, os casais sentam um do lado do outro nos bares e restaurantes como se eles estivessem dentro de um carro.” Concordo com o francês. Se eu sento numa mesa com minha mulher, quero ficar de frente para ela, olhando para ela. A maioria das pessoas senta de lado, “como se estivesse num carro”...

E outra constatação saborosa: “Aqui no Brasil, quando você tem algo pra falar, é bom avisar que vai falar antes de falar. Assim, se ouve muito: ‘vou te falar uma coisa’, ‘deixa te falar uma coisa’, ‘é o seguinte’, e até o meu preferido: ‘olha só pra você ver’. Não percebemos nossos cacoetes de linguagem. Precisamos de um olho externo para registrar sua existência e sua aparente falta de sentido, um sentido que é lingüístico mas que não é verbal. São palavras cuja função não é dizer alguma coisa, mas fingir que alguma coisa está sendo dita enquanto pensamos em alguma coisa para dizer.