terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

2786) O arquivo do DB (7.2.2012)



O fechamento do “Diário da Borborema” (onde tive meu primeiro emprego, de 1965 a 1967) e de “O Norte”, já era temido por algumas pessoas. O DB estava cumprindo uma trajetória semelhante à de outros jornais que acabaram: perdendo assinantes e anunciantes, diminuindo de tamanho, perdendo importância... Enfim, não adianta agora lamentar um processo que durou anos. Há duas questões, pós-fechamento, que são essenciais. A primeira é o que vai acontecer com os colegas que trabalhavam nos jornais – se vão ter seus direitos trabalhistas respeitados e atendidos. Espero (claro) que sim. A outra é o que vai ser feito do patrimônio imaterial do jornal.

O patrimônio material, claro, são os móveis, equipamentos, instalações, máquinas, etc. O patrimônio imaterial do jornal, no entanto, é a história que ele construiu através de 54 anos. Fala-se que a direção dos Diários Associados teria anunciado a transferência, para Brasília, da coleção encadernada do jornal; e que iria incinerar um arquivo com milhares de fotografias. Acho isso tão absurdo que não acredito, mas, por via das dúvidas, há um movimento para que este material, ao invés de ser levado embora (ou destruído), fique em Campina Grande. Os estudantes, professores, historiadores, pesquisadores, sociólogos e jornalistas do futuro veriam nisto um gesto à altura de Assis Chateaubriand.

Os Diários Associados devem isto à cidade e à comunidade que durante mais de meio século lhes forneceu mão de obra, profissionais qualificados, e um mercado que proporcionou à empresa lucros que vão muito além da simples venda em bancas. Campina lhes forneceu a razão de ser de uma empresa jornalística, que é acoplar-se a uma cidade, viver sua vida, sentir o seu pulso, dar voz às suas idéias e suas vontades. Cidade e empresa são parceiros na produção de um jornal. Sem o jornal, a cidade não teria um espelho onde perceber seus problemas e focalizar suas energias. Sem a cidade, o jornal sairia em branco.

Parcerias assim acabam às vezes de forma melancólica, como parece ser o caso. Mas os 54 anos de notícias, de debates ideológicos e culturais, de documentação histórica, pertencem hoje muito mais à cidade do que à empresa, que já extraiu dessa fonte todos os lucros que pôde e agora, minguando os lucros, decide fechar a fonte. Os arquivos do “DB” pertencem à cidade porque há na cidade quem valorize mais o “Diário da Borborema” do que a própria empresa que o criou e agora o desfez. A atitude mais ética, mais sensata e (a longo prazo) mais compensadora para a empresa seria a de deixar à cidade o que pertence a ela: sua própria História.