quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

2746) Evolução copiadora (22.12.2011)

A revista eletrônica Edge (http://bit.ly/vmEGf8) reproduz uma palestra de cerca de 40 minutos com o biólogo Mark Pagel em que ele defende uma interessante teoria, que em alguns aspectos me fez lembrar a visão evolucionista (e pessimista) de H. G. Wells em A Máquina do Tempo

Pagel faz um breve histórico da evolução da vida na Terra, lembrando que o planeta tem 4,5 bilhões de anos, as formas de vida primitivas surgiram há 3,8 bilhões, plantas e animais simples surgiram há 500 milhões, os seres humanos primitivos há cerca de 200 mil, e a História do Mundo que estudamos no colégio remonta a no máximo dez mil anos. (Eu acrescentaria, por minha conta, que os últimos 200 anos produziram um mundo novo, e que os últimos 50 viraram esse mundo novo pelo avesso.) 

Pagel observa que o ser humano desenvolveu, através da memória e da linguagem, um “aprendizado social” mediante o qual as descobertas de um indivíduo são rapidamente assimiladas pelos demais, e passadas adiante no espaço e no tempo. 

Isto fez, raciocina ele, com que inventar e copiar sejam funções essenciais para a sobrevivência da raça. Se a raça precisa de um novo instrumento ou uma nova técnica, não é preciso que todo mundo a invente. Basta que um invente, e os outros copiem. O que o grupo precisa é que a descoberta seja compartilhada. 

Uma consequência disto é que num grupo de 50 pessoas, uma horda primitiva, basta que meia dúzia sejam criativos. Mas num grupo dez vezes maior, o número de pessoas criativas pode continuar sendo o mesmo, porque a memória e a linguagem se encarregarão do “aprendizado social”. Dessa forma, à medida que a população aumenta (e as comunicações se aperfeiçoam), o número de pessoas criativas diminui proporcionalmente, porque o aprendizado social se encarrega de disseminar suas invenções e descobertas. 

Desde que haja uma pequena quantidade de inventores, de descobridores, de pessoas genuinamente criativas, a sociedade tem meios para distribuir os resultados dessa criatividade, para serem copiados pelos demais. 

Por isso, talvez estejamos atingindo (depois da Internet) um ponto-sem-retorno que é consequência deste longo processo em que a necessidade de copiar foi muito mais estimulada do que a necessidade de criar. 

Pagel ironiza inclusive as grandes corporações, que em tese seriam redutos de criatividade bem remunerada, dizendo que 

“ao invés dessas corporações dedicarem seu tempo e sua energia na produção de novas idéias, elas querem apenas comprar outras empresas que possuem essas novas idéias. E isso nos mostra o quanto essas idéias são preciosas, e o esforço que as pessoas são capazes de fazer para adquiri-las”.