Os RPGs já fazem parte até mesmo da programação do Encontro Para a Nova Consciência, em Campina. A sigla RPG serve para muita coisa. Pode ser “Report Program Generator”, uma linguagem de computador desenvolvida pela IBM nos anos 60. Pode ser “Reeducação Postural Global”, uma espécie de terapia para correção corporal, criada em 1980 pelo francês Philippe Souchard. Mas o RPG que nos interessa aqui são os “Role-Playing Games”, ou, em tradução aproximada, “jogos onde se interpretam papéis”, esta última palavra no sentido cênico, teatral do termo.
Num jogo de RPG, escolhe-se uma aventura, e cada participante escolhe um personagem num Manual que se compra nas livrarias, e que pode vir acompanhado de mapas, tabelas, dados, etc. O jogo conta com um Mestre, que não interpreta nenhum personagem, mas serve de coordenador, consultando o Manual, esclarecendo dúvidas, interpretando as regras quando elas são obscuras, e criando por conta próprias situações ou soluções não previstas no Manual.
O RPG é uma evolução de jogos mais antigos. Lembram-se do “War”? É um RPG primitivo, onde cada jogador faz o papel de um país, e todos têm missões conflitantes. No Banco Imobiliário, ou Monopólio, cada jogador faz o papel de um capitalista procurando ganhar dinheiro no mercado de imóveis. Nos RPGs atuais, contudo, os Manuais criam cidades, países, faunas e floras; criam um elenco de dezenas de personagens onde os jogadores podem escolher seus papéis; e regras complicadíssimas para governar as aventuras. Porque em última análise trata-se disso: escolhidos os personagens, os jogadores começam a criar uma aventura, inventar uma história. É uma peça teatral improvisada em conjunto.
Devido ao predomínio do mercado dos EUA, criou-se uma impressão de que todo RPG se refere ao universo dos heróis da fantasia do tipo Tolkien, com elfos, dragões, magos, reis, guerreiros, etc. Mas há RPGs de ficção científica, de terror, de crime e mistério. Os RPGs criados no Brasil utilizam tipos históricos (os índios, os bandeirantes, os escravos, os senhores de engenho). O mais fascinante deste tipo de jogo é o fato de ser algo criado totalmente de improviso, porque são os próprios jogadores que discutem e decidem, a todo instante, o que vão fazer em seguida. Rodear a montanha através da floresta, cruzar o rio, ou subir até o castelo? Resgatar o companheiro raptado, ou seguir em frente na missão? Combater, fugir, negociar? Confiar ou não num desconhecido?
Já vi amigos meus ficarem envolvidos numa aventura dessas, em volta de uma mesa, das duas da tarde à meia-noite. Sei de jogos onde o pessoal se encontra uma vez por semana, e a aventura já dura dois anos. Num encontro de RPGs organizado no Rio por Sonia Rodrigues, no Museu Nacional, vi 50 grupos de jovens jogando em 50 mesas, numa barulheira ensurdecedora, e com uma adrenalina contagiante. Literatura oral improvisada coletivamente! E eu pensava que não havia mais o que inventar.
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