domingo, 10 de julho de 2011

2605) O fantasma do desemprego (10.7.2011)




O que teria sido de Garrincha, se o futebol não o tivesse descoberto? Provavelmente teria acabado a vida como bodegueiro ou frentista de posto de gasolina. Graças ao Botafogo, tornou-se gênio, ídolo, alegria do povo, ganhou duas Copas. Viajou pelo mundo inteiro, conhecendo inclusive Roma, que para ele era “aquela cidade onde Dr. Zezé Moreira escorregou na porta do hotel”. 

O Acaso permitiu ao Brasil transformar um sujeito como ele numa fonte de geração de milhões de cruzeiros. Do ponto de vista de alguma agência de empregos de sua época, era um despreparado. Pois passem um raio-X nesse despreparado e vejam a relação custo-benefício dele.

Por outro lado, vão pra ponta do lápis e vejam quantos sujeitos formados em escolas públicas e universidades federais que, preparadíssimos pelo Estado ao longo de décadas, mal se formam vão ganhar a vida como aspones, taxistas, lixeiros. Isso quando não se tornam parasitas sociais de diversos tipos. 

Existe sempre um descompasso entre know-how e mercado de trabalho, entre avaliação sensata do que cada indivíduo tem para fornecer e utilização sensata dele dentro de um organograma social onde cada um faça alguma coisa útil.

Uma profissão é uma transação comercial estável em que um sujeito é pago para satisfazer uma necessidade que nem precisa ser da sociedade toda, pode ser de um pequeno grupo. O sujeito inteligente convence a sociedade, ou algum grupo, a contratar a habilidade específica que ele tenha. 

Vejam o caso de Sherlock Holmes e seus poderes dedutivos. Não era nada de novo. O cavalheiro Dupin, de Edgar Allan Poe, também os tinha. Lendo “Os crimes da Rua Morgue”, “A carta furtada” e “O mistério de Marie Roget”, vemos que Sherlock já está todinho ali. Conan Doyle reconheceu isto, afirmando que seu detetive era uma mistura de Dupin com seu professor de medicina Joseph Bell.

Em Um Estudo em Vermelho, sua primeira aventura, Holmes explica a Watson o detalhe que faz a originalidade de sua profissão: “Sou o primeiro detetive particular consultivo”. Dupin era um detetive diletante, que se envolvia nos casos por curiosidade ou por convite da polícia. Holmes, não. Sua casa é um escritório onde as pessoas mais diferentes vão pedir socorro, e pagam-lhe uma boa soma depois que o mistério é solucionado. 

Ele profissionalizou o detetive e o transformou numa profissão pública, que qualquer um pode contratar para resolver seus pepinos pessoais.

Quando falamos em crise no mercado de trabalho é porque temos gente qualificada que não encontra emprego, e empregos vagos que não encontram gente qualificada. Cabe aos indivíduos mais espertos fazer, como Holmes, uma avaliação de seus talentos, suas habilidades e sua disposição, e perceber de que modo isto pode ser transformado num modo de ganhar a vida. Uma profissão pode ser inventada tanto pela necessidade social quanto pela criatividade individual.