“The Underground Railroad” foi uma organização clandestina criada nos EUA para facilitar a fuga de escravos. Era uma série de endereços ao longo de uma linha, como uma linha de metrô onde em cada “estação” era possível esconder-se, descansar, alimentar-se, etc., mas o trajeto entre uma e outra geralmente era feito pelos fugitivos na base do “cruze os dedos e seja o que Deus quiser”. Há um bom livro que reúne histórias de escravos e abolicionistas: Forbidden Fruit – Love Stories from the Underground Railroad de Betty DeRamus (New York, Atria, 2005). De pouso em pouso, os escravos fujões se afastavam cada vez mais, indo rumo ao Norte, já que a maior parte da mão-de-obra escrava vivia no Sul.
Não sei se houve algo parecido aqui no Brasil, mas Joaquim
Nabuco em Minha Formação (1900) faz referências às atividades abolicionistas
de André Rebouças. No capítulo 21 de seu livro, Nabuco transcreve um itinerário
redigido por Rebouças para a fuga de escravos paulistas rumo ao Ceará:
“Caminho de Ferro Subterrâneo do Alto São Francisco ao Ceará
Livre. Estação inicial: São Paulo, junto ao túmulo de Luís Gama. Segunda
estação: Pirassununga. Terceira
estação: Cachoeira de Mogi-Guaçu.
Quarta estação: Em pleno sertão, com rumo de Nordeste; o Sol deve
amanhecer à direita e cair, à tarde, à esquerda. Quinta estação: Piunhi, nascente do rio São Francisco,
acompanhando sempre o belo rio, abundante de peixes e de frutos
deliciosos. Sexta estação: De um lado
Goiás livre; do outro o sertão da Bahia, onde não há capitães-do-mato. Sétima estação: Na Vila da Barra, onde
começam as grandes cachoeiras do São Francisco. Oitava estação: No varadouro das águas do São Francisco, para as
do Parnaíba. Nona estação: no Paraíso – no Ceará Livre.”
Nabuco avalia esse texto de Rebouças como “pura fantasia,
mas tão cheio para todos nós de vestígios de sua originalidade, de toques de
sua generosa sensibilidade, quase impessoal”.