sábado, 26 de abril de 2014

3483) William Castle (26.4.2014)



Quando eu era menino, ele era chamado por grande parte da imprensa “o rival de Alfred Hitchcock”. Seus filmes, mais até do que os de Hitchcock, eram verdadeiros eventos. Para mim ele e Hitchcock (eu era fã de ambos) eram cineastas parelhos, nivelados, uma dupla parecida, que fazia uma concorrência saudável – algo como Lucas & Spielberg, ou como Coppola & Scorsese. 

Foram precisos alguns anos de estudo para eu perceber a diferença essencial. Hitchcock foi (talento à parte) um dos mais ricos e poderosos diretores do seu tempo. William Castle era um diretor de filmes B, que compensava em esperteza o que lhe faltava em poder político. Em termos práticos, estava mais próximo de um Roger Corman (o rei do filme de terror barato) do que do diretor de Rebecca.

Seu centenário está sendo comemorado neste mês de abril, sem muito alarde, porque só os fãs de filmes de terror se lembram dele.  Seus filmes só passam nos corujões a cabo, enquanto que Os Pássaros (1963), de Hitchcock, reestreou com cópia nova e publicidade no mês passado. 

Em vida, a publicidade era o instrumento preferido de Castle. Quando ambulâncias foram estacionadas na frente dos cinemas que exibiam O Exorcista em 1973, isso virou notícia. Castle havia feito o mesmo com Macabro (1958), que inclusive dava a cada espectador uma apólice de seguro de vida para o caso de alguém morrer de medo durante a projeção.

Castle assustava os espectadores ligando motores que faziam vibrar a poltrona durante a projeção, fazia um esqueleto pendurado no ar passar sobre as cabeças da platéia, distribuía óculos especiais para ver os fantasmas vistos pelos personagens do filme, interrompia a projeção antes da cena culminante para que os espectadores medrosos fossem embora (com devolução do dinheiro)... 

Não, não vi nada disso no Cine Capitólio – funcionava apenas em salas escolhidas nos EUA, mas o mundo inteiro comentava.

É dele um dos filmes que mais me aterrorizaram na infância, Força Diabólica (The Tingler, 1959), com Vincent Price, descrevendo uma espécie de centopéia que se desenvolve na coluna vertebral das pessoas amedrontadas (causando o famoso “frio na espinha”) e que só pode ser morta se a pessoa gritar a plenos pulmões. Quando Vincent Price, no final, se vira para a câmera e manda gritar, o que vocês acham que o cinema inteiro fazia?

Castle, que se divertia tremendamente inventando essas coisas, trouxe de volta ao cinema aquelas tecnologias mambembes de quermesse, do tempo de Georges Méliès, e recriou nos anos 1950 aquele terror inocente dos espectadores que pulavam para o lado quando o trem dos irmãos Lumière se aproximava da câmera.