sexta-feira, 25 de abril de 2014

3482) Tempestade de espadas (25.4.2014)



A Storm of Swords é o terceiro volume das “Crônicas de Gelo e Fogo”, de George R. R. Martin, em que se baseia a série de TV Game of ThronesA quarta temporada começou este mês, já com episódios de grande violência, puxadas de tapete de deixar de boca aberta o espectador, diálogos cortantes e imagens de alto impacto. Sempre temos que levar em conta, nessas adaptações, a enorme diferença entre a página escrita e a imagem filmada.  Uma coisa é você escrever o melhor diálogo do mundo na página: a única coisa de que precisa é um leitor inteligente o bastante para perceber o que o dialogo diz. Outra coisa é ver esse diálogo entregue a atores que no momento de falar aquelas palavras se tornam parceiros de criação, para o bem ou para o mal. A regra básica diz: um mau ator pode estragar o melhor diálogo, um bom ator pode pegar uma frase banal e enriquecê-la de significado. O ator é o ponto final da cadeia criativa, pode valorizar ou destruir tudo que foi feito antes.

Game of Thrones conta com bons atores, e mais do que performances excepcionais (são todas no nível B+ da TV) tem atores corretamente escalados para os papéis. Isso valoriza os ótimos roteiros, porque na TV não existe a preparação gradual de tensões dramáticas, os monólogos interiores, o acesso aos pensamentos íntimos dos personagens, que dão consistência aos livros. Martin é um escritor exuberante, não em termos de estilo, mas de imaginação dramática. Ao contrário da maioria dos romances de fantasia heróica, onde tudo parece “escrito nas estrelas”, seus livros nos dão a impressão de fazerem correções de rumo o tempo todo. Com cem páginas de intervalo, muda a balança do poder, mudam os interesses políticos, mudam as alianças pessoais, muda o caráter ou a disposição íntima dos personagens. E tudo se encadeia, porque numa terra onde só há duas leis, a política e a espada, ninguém tem certeza absolutas, principalmente quando são os personagens com certezas absolutas (leia-se: princípios morais inabaláveis) que são abatidos como carneiros.

Assassinatos em festas de casamento, sexo incestuoso em pleno velório, massacre de inocentes só pra mandar um recado a alguém, tortura, estupro: dito assim parece que o seriado é uma câmara de horrores, mas na verdade tudo isso não é mais violento do que uma guerra sertaneja ou uma tragédia shakespeariana. Game of Thrones é uma espécie de Macbeth elevado à sétima potência, e foi descrito por alguém como “O Poderoso Chefão na época do Senhor dos Anéis”.  O jogo dos tronos é o jogo do poder, e ninguém até hoje ganhou esse jogo de mãos limpas, seja de sangue, seja de dinheiro.