quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

3096) O plágio poético - 2 (30.1.2013)




(Tim Dooley)


Falei ontem sobre um poema de Christian Ward copiado de um poema de Tim Dooley, que por sua vez pretendia ser uma paráfrase (homenagem? citação?) do famoso poema de Pablo Neruda, “Walking around”. Dooley pode dizer que estava apenas parafraseando ou citando (ele indica Neruda no título). Mesmo assim, a maior parte do seu poema são frases de Neruda ao pé da letra. Pode-se argumentar a seu favor que ele reconheceu a presença de Neruda, não quis agir às escondidas. Muito bem, isso pode lhe dar pontos em honestidade, mas o conjunto não lhe dá pontos em poesia. 

Já o caso de Christian Ward me parece mais grave, pelo que li. Ele só admitiu ter plagiado Dooley depois de ser flagrado plagiando outra pessoa. Ward inscreveu no concurso para o Prêmio Hope Bourne o poema “The Deer at Exmoor”, que foi o vencedor. Essa vitória tornou seu poema conhecido e logo alguém, que tinha lido o poema de Helen Mort, mostrou que eram quase iguais. Ward afirmou pela imprensa: “Eu estava escrevendo um poema sobre minha infância em Exmoor e fui descuidado. Usei o poema de Helen Mort como modelo para o meu, mas me precipitei e acabei enviando um rascunho que não era inteiramente obra minha”.

Ora, idéias alheias todo mundo pega. O mínimo que pode fazer é deixar claro, em público, que recorreu àquelas fontes. Eu tenho um poema chamado “Blow-up” que dediquei a Michelangelo Antonioni, Julio Cortázar e César Leal. São as minhas referências para a criação daquele poema que, mesmo assim, me parece muito original, e meu (mas qualquer um dos citados, se o lesse, descobriria na hora de onde ele veio). Já citei/parafraseei Drummond, Cabral, Vila Nova, Dylan, Carlos Nejar, Pessoa, Leminski, Ginsberg... Não me orgulho nem me envergonho disso. São estudos, exercícios. Meus poemas podem não ser grande poesia, mas não são plágios, são reelaborações que eu defenderia em qualquer tribunal.

Você pode usar idéias, formas, estilos ou enredos alheios. A Arte é uma reciclagem permanente de formas e de idéias, tanto coletivas quanto pessoais. A única coisa que pode justificar esse uso é: 1) Você deve criar mais do que cita, ou seja, a parte sua, pessoal, original, deve ser maior, deve ter mais peso do que a parte referencial, feita a partir da obra alheia; 2) Você deve fazer isso de tal modo que se o autor citado ou imitado vir o que você fez, ao invés de reclamar, diga: “Puxa vida, esse cara é muito bom, vejam só o que ele fez a partir de uma idéia que eu tive”. Ou seja: “procurar fazer da cópia uma obra que o autor do original pudesse apreciar com prazer e aplaudir com orgulho”. Se não for assim, ou é picaretagem ou incompetência. (Continua amanhã)