Dias atrás um conhecido me ligou para que eu tirasse uma dúvida. Quem vem primeiro quando se informam os nomes dos autores de uma música, no selo de um disco: o letrista ou o compositor? Isto me lembrou o tempo em que, nos bacuraus que fazíamos nas esquinas de Campina, perdíamos horas discutindo se o fato do nome de Lennon vir antes do de McCartney indicava que ele era o letrista, e Paul o autor da música. Não sei quem inventou essa noção, mas ela existe, e já vi essa discussão até em escritórios de gravadora, gente reclamando que o encarte do disco estava errado, porque o nome de Fulano veio antes do de Sicrano, quando era para ser o contrário.
Não creio que haja lei ou jurisprudência regulamentando um detalhe tão besta, mas acho bom esclarecer. A ordem dos nomes não tem nada a ver com letra ou com música. É determinada pelo acaso, ou pelo hábito, ou porque um dos parceiros é mais ansioso e exige aparecer primeiro. Não há regra. Se no disco tem “Noel Rosa e Vadico”, ou “João Bosco e Aldir Blanc” isto são apenas fórmulas que se fixaram com o tempo. Não indica quem fêz o quê. No meu caso, por exemplo, quando assino minhas músicas com meus parceiros mais frequentes, coloco “Braulio Tavares e Fuba”, coloco “Lenine e Braulio Tavares”. Por ordem de importância? Não: porque cada uma dessas fórmulas é um verso de 7 sílabas, uma redondilha maior. Fica mais agradável ao ouvido do que a forma inversa.
Outra coisa: nem sempre se pode distinguir quem fêz a letra e quem fêz a música. Há parcerias onde essa divisão de trabalho é nítida, mas em outras não é. No caso dos Beatles, por exemplo, sabe-se que, geralmente, John ou Paul fazia a primeira parte de uma canção (letra e música), e a entregava ao outro para que fizesse a segunda parte. Os dois se equivaliam como letristas e como compositores. O mesmo se dá no caso de Roberto e Erasmo Carlos. Não há “o músico” e “o letrista”. Ambos botam a mão na massa, ambos mexem em tudo.
Sabe-se hoje que muitas das canções de Luiz Gonzaga eram-lhe entregues quase prontas pelos parceiros, Humberto Teixeira ou Zé Dantas. Cabia a Gonzaga a finalização: enriquecer a harmonia, criar as introduções e solos instrumentais, às vezes criar um refrão. Em outros casos, ele trazia a melodia prontinha para o parceiro “letrar”. Não há uma fórmula. Cada canção é diferente, e muitas vezes o modo de compor é determinado pelo parceiro que teve a idéia. É ele quem puxa a criação, o outro vai tapando os buracos e ajudando na revisão final.
Outra pergunta frequente é sobre a partilha dos direitos autorais. A resposta é: não importa o quanto cada um contribuiu para a música. Sendo dois autores, são 50% para cada. Se são três, são 33,3% para cada, e assim por diante. Só em casos excepcionais coloca-se no contrato que um parceiro vai ganhar mais do que o outro. Também neste caso, a regra é que haja uma partilha de responsabilidades e de lucros. Por isso se chama parceria.
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