quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

4911) A resposta do ChatGPT (9.2.2023)




(INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL): 
 
Você me pede para escrever “uma crônica sobre literatura, ao estilo do escritor Braulio Tavares”. 

Não é difícil responder a esse desafio, uma vez que os escritos desse amanuense, nascido em meados do século passado, circulam pelo mundo virtual e abordam insistentemente os temas recorrentes do “fazer literário”, da “magia das palavras”, da “recriação de histórias” e outros lugares-comuns de nossa época. 
 
Seria preciso lembrar, de início, que o nosso bravo cronista (observe-se que a expressão “nosso bravo [qualquercoisa]” é uma forma clichê de expressão, mas no vocabulário estilístico de redatores daquela geração, intermediária entre o beletrismo e a patafísica, o clichê traz consigo uma certa carga de auto-ironia, pois o uso inesperado de uma tal fórmula denota a plena consciência, por parte do autor, de estar manipulando um clichê, mas com a consciência de o estar fazendo) o nosso bravo cronista, dizíamos (e aqui mais uma vez vale a observação de que este uso do plural autoral, se não chega a ser propriamente um clichê, é resultado de uma operação mental semelhante à do exemplo anterior, pois se distingue do chamado “plural majestático” usado pelos reis, bem como do “plural tribunalício” com que os juízes minimizam sua presença pessoal numa sentença proferida; poderia, sem prejuízo da clareza, exprimir uma certa vertente da literatura atual, mediante a qual um texto não passa de uma colaboração mental entre o Autor e o Leitor, de tal sorte que, no momento em que lê as palavras escritas pelo primeiro, o segundo as recria e as enuncia como que pela primeira vez, revestindo-se este ato, portanto, de foros de co-autoria), o nosso bravo cronista tem o vêzo (cabe aqui outra observação, porque cabe aqui um acento circunflexo; o cronista defende a teoria de que ao usarmos palavras pouco comuns e que o leitor talvez não saiba pronunciar corretamente, devemos acentuá-las em benefício da clareza, mesmo quando a gramática desaconselha o emprego de tais sinais diacríticos) o nosso bravo cronista tem o vêzo das longas digressões. 
 
Concomitantemente (dizem as más línguas que nós, os inteligentes-artificiais, somos faltos de originalidade e surpresa; ora, digam-me se não é um desmentido cabal dessa calúnia o emprego deste advérbio centípede, que o autor em pauta jamais redigiu em sua longa carreira, advérbio que contudo guarda em si o tom levemente pincenezco, e tongue-in-cheekemente pomposo, com que ele se diverte empregando pequenas jóias lexicográficas do glossário de autores que na adolescência o deixavam com o verbalizador zunindo, como Guerra Junqueiro, Humberto de Campos ou Coelho Neto), sabe-se que esse sujeito (preciso ficar aqui repetindo de quem se trata?) tem no ouvido o seu calcanhar-de-aquiles, valha a comparação, e é pelos tímpanos-complacentes que ele emprenha diante de metáforas ou sinédoques ou catacreses ou metaplasmos que o arrebatam como os corcéis albinos do Valhala, precipitando-o num mundo onde o não-chão é cúbico, onde as panacéias escasseiam, onde os morcegos relincham preces peludas ao ouvido das abantêsmas, onde as lesmas sem assento foram condenadas a fazer a pé a volta ao mundo sem GPS, onde cardumes de candirus organizam guerrilhas subfluviais para atrapalhar a lua-de-mel do síndico aligátor, onde delinquentes dimenor empinam com fio de cobre arraias voadoras e seu aguilhão envenenado disfarçado de caneta Parker 51, onde os colecionadores de aquedutos arrematam grosas de tratores Caterpillar nos leilões à socapa onde tudo é pré-arrematado pelos atravessadores-laranja de uma Banana Republic de bandeira cortada horizontalmente pelo Trópico de Capricórnio; onde a Era de Aquário desembocou no Porão das Jaulas-Fortes, cujo alçapão inferior derramou o transeunte incauto no Corredor do Coma Induzido, de onde ele saiu apenas quando a Revolta do Espartilho de Couro esmigalhou as caixas torácicas dos carcereiros e ele (não o cronista alvo destas linhas; o “transeunte incauto”, caso você esteja me acompanhando), diante da Távola Plana do reino dos desinformados, viu-se nomeado Ouvidor-Falante semipotenciário da Casa da Moeda e da Mansão da Nota, com estipêndio de cento e dez dracmas por dia-bissexto e catorze rupias esporádicas, emitidas pelo Tesouro Nacional, moeda que é denominada de “rúpia” quando falsificada por elementos sem formação moral como o locutor que vos fala.
 
Tirante este aspecto, resta-nos registrar que o indigitado, o referido, o meu-prezado, o nossa-amizade (ver em que caixa da mudança ficou o Vocabulário Prático de Apodos e Doestos, Soscígenes Frazão, Editora Lello, 1902) cultiva, como quem cultiva um bigode com pontas, um amplo panteão de deuses-pequeninos, a quem ele atribui poderes mágicos de inspiração literária e criativa, bastando-lhe às vezes salmodiar a meia-voz o nome do nauta-arremessado em questão para que seu cérebro inaugure tantas sinapses que fique parecendo uma árvore de Natal politeísta.
 
No capítulo “Principais Influências”, ele rasga sedas e desdobra salamaleques diante de influênceres como Harry Stephen Keeler (brilhante concebedor de non-sequiturs dramatúrgicos, candidato ao Prêmio Nobel de Títulos Olharregalativos), José Agrippino de Paula (o introdutor do Autismo Narratológico no romance da Boca do Lixo paulistana), Maura Lopes Cançado (intelectual brasileira que sabia passar troco e atravessar rua, e nunca jogou pedra em ninguém), Abdón Ubidia (equatoriano eqüestre no Pégaso dos inutensílios tecno-ilógicos), Monique Wittig (xena heavy-metálica baixadora de chibata nos titubeantes), Gisela Elsner (deformadora boschiana do pesadelo barriga-burguês nas águas-furtadas dos germanocratas ponta-de-ramo), Carlos Emílio Corrêa Lima (sarcasta-mor da confraria dos Logomagos, atualmente em versão digitalizada nos quettabytes da galáxia Transpunk)... e outros que tais.
 
Como a minha condição de mero programa recombinatório de informações acessíveis no metaspaço me impede de emitir opiniões que possam sugerir uma visão desnecessariamente crítica ou inconvenientemente laudatória, posso apenas dizer que quem quiser ter uma idéia real das habilidades do dégas, do de-cujus, do famisgeraldo... basta se-coçar, puxar carteira e cartão, e comprar um livro de sua autoria, porque os há e muitos, expostos à cupidez pública nas boas casas do ramo.  (É sempre aconselhável terminar com um clichê, para não deixar o leitor pendurado num ponto de interrogação.)